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Das coisas que eu sei
12 de setembro, 2016 - por Max Franco
Das coisas que eu sei, sei menos que devia e mais do que preciso.
Pois sou pródigo em ignorar utilidades e conhecer desnecessidades.
Sei, por exemplo, que a capital da Suíça é Berna, e não Zurique ou Genebra, como muitos desconfiam.
Sei, de cor, poemas de Pessoa, autores de prosa e letras de músicas dos anos 80 ou 90.
Sei que Humphrey Bogart protagonizou Falcão maltês, e Ingrid Bergman, Por quem dobram os sinos. E ambos, fizeram Casablanca. Casablanca, que não é a capital de Marrocos.
Sei da escalação completa do time do Vasco de 98′, campeão da Libertadores.
Sei nome e sobrenome dos integrantes do U2.
Sei que Van Gogh pintou mais de 800 quadros e só vendeu um. E que Picasso, por sua vez, vendeu tanto que morreu rico. Sei de mais tanta coisa sem valia que ninguém nem imagina.
Para que, então, saber dessas ociosidades, quando, de fato, há tanta coisa relevante para se saber?
Sei, por exemplo, pouco de tabela excel, e menos de grana e como se faz para se fazer grana, além de como – prudentemente – acumulá-la.
Sei, também, pouco sobre gente e, por isso, acabo confiando demais, acreditando demais, com uma tendência crônica e crescente de meter a cara na parede.
Sei nada sobre carros,
Nada sobre a lógica da vida e queria – ardentemente – um tutorial qualquer sobre relacionamentos.
Nunca sei exatamente, como combinar roupa, onde por os braços, ou o que deveria dizer nas ocasiões. Nasci desajustado e como um desajuste continuo vivendo.
Sei das minhas ignorâncias quase todas, porque algumas também ignoro. O que é bom e proveitoso, porque se saber megaburro deve ser troço depressivo-suicidante.
Saber que não sei serve como clichê ou filosofia, mas é péssimo para o dia a dia.
Sei, também, que só entenderei da vida quando, pelo que me parece, for muito tarde para fazer algo por ela. Porque, da vida, sou um eterno amador.
Há coisas, porém, que me servem saber e fico radiante ao sabê-las cada vez mais.
Sei que há pouca coisa mais bonita de se ouvir do que o riso feliz dos meus filhos.
Que há, nesse mundo, pouco ou nada mais belo de se escutar do que o “eu te amo” dos lábios de quem se ama.
Que dormir com chuva é bom. Com a música da chuva. Com o cheiro da chuva. Com o frio da chuva. (Acho que sou pessoa pluviosa, enquanto há tanta gente árida por aí.)
Que a única certeza dessa vida é que ela passa, que tudo passa, que todos passam. E que, por mais que deseje, não vai dar para ficar impassível às passagens. Nós somos o nosso passado, até agora.
Enquanto tantos sabem de tudo um pouco, eu ignoro muito.
Sou o sábio do vazio, biógrafo de ninguém, o mestre do nada. Enquanto, todos sabem, eu desconfio mais ou menos.
Eu sei de tanta dessabedoria, meu deus!
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