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Um pouquinho

14 de março, 2024 - por Max Franco

– O jeito é aceitar que seremos sempre um pouquinho infelizes – ela me soltou naquele voo de retorno.

E as palavras ficaram, por um tempo, saculejando na minha cabeça, como se a turbulência que ocorria fora tivesse sido carregada para dentro.

– O jeito…

– aceitar…

– um pouquinho…

– infelizes.

Essa talvez seja a melhor tradução da tal vida de adulto, condição à qual, há décadas, venho tentando me adaptar (sem tanto êxito!).

E é a realidade inexorável, difícil de engolir, azeda e, nem por isso, menos verdadeira. O fato é que não há felicidade absoluta nem eterna. Mesmo em momentos frutuosos, profícuos, produtivos, satisfatórios… felizes, há sempre alguma nota de infelicidade. O jeito é aceitá-la e, nem por isso, deixar de ser feliz pelo que merece ser felicitado.

Se cogitarmos um pouco, poderia ser bem pior: poderíamos estar irrevogavelmente infelizes. Porque a infelicidade não costuma aceitar bocados de alegria. A infelicidade é egoísta e avarenta. Ela toma o indivíduo todo para si, vetando todo e qualquer regozijo dos corações desgraçados.

O fato é que enquanto a ventura permite a coexistência com o infortúnio, este, por sua vez, é um ditador tirânico que deseja os territórios todos para si.

A felicidade é sempre mais democrática e generosa, por isso convive melhor com a diversidade. Talvez por esse motivo podemos ser felizes e estar tristes.

Deveríamos, então, nos rebelar contra os ditames autoritários das desventura e, só por rebeldia, sermos felizes, ao menos um pouquinho, em meio à fatalidade?

Portanto, melhor feliz-meio-infeliz do que infeliz de todo.

Porém felicidade total é uma improbabilidade. Talvez mais do que isso, é sessão da tarde.

Pois carreguemos por aí nossos sorrisos teimosos, cientes de que existirão momentos de chorar de rir e chorar de chorar mesmo.

isso é ser adulto.

E uma chatice.