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Se eu fosse você, Shopping Center, qual história contaria?
08 de novembro, 2016 - por Max Franco
Se eu fosse você, Shopping Center, qual história contaria para fidelizar clientes e engajar colaboradores?
Olá, como vai, tudo bem?
É um prazer conversar, mesmo que eu saiba que, para você, deva ser novidade falar com um Shopping Center. Sei, também, que Shoppings não costumam ter essa habilidade tão facultada aos seres humanos, que é a de falar. Vocês falam há mais de 100 mil anos, é o que dizem. Produzem Arte há mais de 40 mil e escrevem há, apenas, 5 mil anos. Nos últimos anos, conseguiram verdadeiros milagres nesse campo da comunicação. Hoje, vocês, facilmente, são capazes de falar o dia inteiro com gente de todo o mundo. E tudo isso numa velocidade estonteante. Vocês impressionam.
Infelizmente, essas vastas possibilidades de se comunicar não se transformaram, também, na capacidade de se entender. A impressão que tenho é que, quanto mais vocês falam, menos se comunicam.
Pois eu sou de matéria calada. Faço parte do mundo inexpressivo, mudo e incomunicável. Não sabe a inveja que temos de vocês. Vocês podem até sentir, sentir intensamente e relatar essas sensações. Veja que maravilha! Não sabem o dom que tem!
Pois eu, caso sentisse e pudesse falar disso, contaria da vez em que dois sujeitos de veia acadêmica, em meu recinto, sem respeitar a minha sombra e presença, puseram-se a falar (mal) de mim. Veja só que petulância!
Eles bebericavam café e recitavam teóricos. Antes tivessem a boca somente para o café.
– Já ouviu falar da teoria do “Não-lugar”?
– Sim, Marc Augé… O antropólogo francês…
– Exato. Ele cunhou o termo “não-lugar” para se referir a lugares transitórios que não possuem significado suficiente para serem chamados de lugares. São aeroportos, quartos de hotel, supermercados, shoppings centers…
– De fato. Estamos, portanto, estamos tomando um cafezinho num não lugar! Engraçado, não é?!
Para mim, não. Não vejo nada de engraçado! Como assim “não-lugar”? Como assim “sem significado”?
Você diria para aquele jovens, os quais, durante anos frequentaram os meus espaços, aqui paqueraram-se, aqui namoraram e, naquela mesa de restaurante, trocaram alianças de noivado, que este lugar não tem significado?
Você diria para centenas de profissionais, os quais, anos a fio, aqui deixaram os esforços dos seus trabalhos e sustentaram as suas famílias, que este local não significa nada?
Você diria, meu amigo catedrático, que este logradouro onde você mesmo fez e cultivou amizades, é um posto isento de distinção ou caráter?
Ah, se eu pudesse falar quanto lhe diria, meu caro!
Diria das lágrimas e sorrisos que aqui testemunhei. Dos risos e encontros. Dos abraços e amassos. Dos amores que presenciei. Dos sonhos que vi se realizarem.
Por sorte, não são vocês os juízes do que é ou não um lugar. Nem este tal Marc Augé. Este deslugarizado. São as pessoas que dão significados às coisas que merecem significado. Significado não é troço que se tem sem ser dado. Significado se concede.
Porque um “não-lugar” pode ser um lugar para muita gente. E um lugar não significar nada.
Há lugares e lugares, e significados para todos eles.
Ah, se eu pudesse falar, quanto lhe diria…
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