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Alma lusitana (Parte 1)
04 de dezembro, 2016 - por Max Franco
“Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!” (Fernando Pessoa)
A alma lusitana (Parte 1)
Não foi a minha primeira vez em terras portucalenses, mas, sem dúvidas, nenhuma vez anterior teve tal profundidade. Enquanto nas outras, naveguei na superfície da cultura deste país, nesta vez, mergulhei de escafandro. Enquanto das outras, troquei olhares na festa, desta, dormi e acordei, por vários dias, com esta gaja formosa com milhares de anos de história.
Certa vez um colega lisboeta me definiu o brasileiro sob o olhar de um lusitano, “O brasileiro é um português à solta”. Considero um dos mais irreverentes conceitos de brasileiro que já ouvi na vida. Devo dizer que escutei alguns que não serviriam para engrandecer tanto assim a nossa autoestima, mas este traz um olhar diferente, quase carinhoso, dos nossos primos mais velhos, que nos veem com um misto de admiração e reprimenda. Um olhar quase beirando a inveja, mas preocupado. Decerto, eles gostam mais de nós do que o contrário. Eles apreciam até as músicas e novelas que odiamos. E, principalmente, sonham conhecer o país que conquistaram e perderam.
Particularmente, me descobri mais lusitano que pensava nesta última viagem a Portugal. Amo a comida portuguesa, de longe, a melhor, mais elaborada e barata do continente europeu. Amo seus escritores, como Fernando Pessoa, José Régio, Eça de Queiroz e Florbela Espanca. Amo Madredeus, para mim um dos melhores grupos musicais que já ouvi tocar. Amo a sua língua, sonora, vasta, rica e viril. Amo amar Portugal, porque Portugal é também Brasil e também pouco de mim. Como num país tão pequeno pode cabe tanta história?
Nestes últimos anos, descobri um novo Portugal. Antes, claramente, o português era um mar de queixumes. Hoje, observo, ao lado da tradicional autocrítica, um comportamento novo. Quase um otimismo (que não me ouçam. Afinal, português não costuma aprovar muitas positividades!). O crescimento financeiro, a vitória na última Eurocopa, o advento Cristiano Ronaldo e a superação das crises são os motivos deste novo clima que recai sobre a terrinha. Portugal está sorrindo. Ainda não é uma gargalhada. Muita vez, é um sorriso encabulado. O Brasil, por sua vez, se debulha em lágrimas em franca depressão. Até os alegrinhos de plantão estão deprimidos. Talvez, só não o saibam…
Portugal é um daqueles países que reputo como obrigatório para um brasileiro. Há países obrigatórios? Claro que há. O primeiro país obrigatório para um brasileiro deveria ser o Brasil. Depois, Portugal, Itália, França e por aí vai. Não falta país para se conhecer neste vasto mundo.
Portugal é compulsório porque é como dar uma olhada numa foto antiga. Você vai se reconhecer, mas não é exatamente você. Ainda não. Não é você de fodo. Mas, parte. Parte considerável.
Conhecer Portugal é uma das melhores formas de conhecer a si mesmo.
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