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Quando a vida é generosa
14 de dezembro, 2016 - por Max Franco
Olá, filha, como vai?
Sei que ninguém envia mais cartões postais e que escrever cartas é coisa de velho. Mas, eu sou velho mesmo, porque 76 anos é idade de velho. Porém, velhice não é doença nem demérito. Não tive culpa de ter sobrevivido a muitos coetâneos apesar de todo esforço que o mundo faz para que não resistamos vivos. Eu resisti. Sou velho e gosto de algumas coisas velhas. Abro exceções, no entanto, quando se tratam de frutas, legumes e aparelhos eletrônicos.
Escrevo-lhe agora do Master of the seas. Navio de cruzeiro que está dando uma voltinha pelas Antilhas. No exato momento, estamos aportados na Jamaica. Hoje à noite, devemos ir para um luau em terra firme.
Eu sei que você deve estar se perguntando quanto tempo faz que estou viajando. Não precisa fazer as contas. São já 123 dias. Não, acho, porém que nos veremos até o fim do ano, porque depois deste cruzeiro, devemos passar uns dias em Barcelona, de onde pegaremos outro navio para mais duas semanas pelo litoral do mediterrâneo. Depois, quero Grécia. Isso mesmo: Santorini, Mikonos…
Estou com saudades, filha. E espero vocês estejam tão bem quanto eu. Mas eu duvido.
Aqui tenho 6 refeições espetaculares diariamente. Tenho a bordo piscinas, academias, cinemas, spa com massagens, shows e a possibilidade de conhecer lugares extraodinários sem grande esforço. Não se preocupe com a minha saúde. Na verdade, nunca estive melhor. E com a tranquilidade de ter perto assistência médica 24 horas ao dia. É uma maravilha!
Outra vantagem do cruzeiro é a chance de fazer novos amigos. Há sempre gente muito bacana para se conhecer. Tanto que tenho convites para me hospedar em todas as latitudes. Acho que precisaria de mais três vidas para aceitar todos estes gentis convites.
Não se preocupe com a grana também. É muito mais barato um dia num cruzeiro do que numa casa de repouso ou num hotel. De qualquer forma, você e sua irmã estão formadas, profissionalmente equilibradas, e não pretendo mesmo deixar nenhum tostão após a minha última viagem. Na verdade, ainda não enxerguei desvantagens desta vida de marinheiro, a não ser a saudade de vocês, que é enorme.
Por sorte, tenho a Valéria sempre perto e isso suprime qualquer possibilidade de solidão.
Você se lembra da Valéria, não é? Conheci-a em Punta del este, naquele cruzeiro pela América do Sul. A novidade é que você vai ter um irmãozinho. Maravilha, não é?
Viajar revigora, filha!
Como diz o poeta, “Navegar é preciso. Viver não é preciso!”
Beijos do seu velho.
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