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Storytelling: para que histórias?

02 de abril, 2016 - por Max Franco

 

STORYTELLING – “Um homem é sempre um contador de histórias.” Sartre

Nesse mundo atual, não basta existir. É preciso marcar presença. E a grande demarcadora de presença é sempre a emoção! A emoção é a caneta marcatexto da vida humana. É o realce por excelência.
É por isto que o recurso do storytelling aparece hoje em dia como uma ferramenta mais do que poderosa para, por exemplo, no mundo corporativo, motivar colaboradores, fortalecer a imagem de produtos e, enfim, envolver emocionalmente as pessoas.
No entanto, apesar da sua aplicabilidade moderna, o storytelling é um instrumento utilizado desde os tenros anos da humanidade.
O caçador paleolítico, decerto, relatava para uma assembleia atenta as façanhas da sua caçada. Sócrates caminhava pela ágora narrando histórias para os seus seguidores. Cristo circulava pela Judeia elaborando parábolas para os seus discípulos. Os menestréis seguiam de cidade em cidade cantando os atos heroicos dos cavaleiros cruzados. Apreciar histórias é dos traços mais antigos e profundos do ser humano. Todo homem gosta de contar e de ouvir boas histórias.
Joseph Campbell, célebre estudioso dos mitos, identificou elementos comuns em histórias e lendas dos mais diversos povos espalhados pelo planeta, reforçando assim o conceito de inconsciente coletivo cunhado por Carl Jung.
Mas, vejamos o que significa essa palavra bonita:
– Para uma criança, o arquétipo é, brincar. Toda criança brinca, ou quer brincar. Brincar de carrinho, de boneca, de playstation ou de bichos esculpidos de ossos é uma materialização local e temporal de um pulsão natural e comum a todas as crianças do mundo.
Brincar está no inconsciente coletivo dessa faixa etária. Este elemento disseminado entre os humanos, não importando o tempo e o ambiente, foi batizado por Jung com o nome de arquétipo.
Baseado nos arquétipos de Jung, Joseph Campbell elaborou um conceito denominado de Monomito, ou Jornada do herói, que é uma saga composta por determinadas fases que acabam se repetindo em histórias oriundas de várias culturas.
A obra de Campbell teve tal alcance que Christopher Vogler, um roteirista de cinema, criou uma espécie de manual com os passos da jornada do herói. O resultado dessa empresa é que inúmeros filmes de sucesso foram produzidos seguindo estes estágios (MUNDO COMUM, O CHAMADO, A RECUSA DO CHAMADO, O MENTOR, O PRIMEIRO PORTAL, PROVAÇÕES: ALIADOS E INIMIGOS, APROXIMAÇÕES, A MAIOR CRISE, RECOMPENSA, O RETORNO, A RESSURREIÇÃO, O REGRESSO COM O ELIXIR).
Filmes como Matrix, Guerra nas estrelas, Ghost, O rei leão, Batman, Homem-aranha, Robocop, Capitão América, Homem de ferro e muitos outros famosos blockbusters produzidos por Hollywood não têm estruturas semelhantes por acaso, mas por seguirem a “fórmula” do Monomito identificada por Campbell e esmiuçada por Vogler.
Para sabermos empregar o storytelling, precisaremos nos lembrar daquilo que o nosso professor de Redação tanto se esforçou para nos ensinar na época do colégio e, assim, saber usar os famosos elementos da narrativa: tempo, lugar, enredo, foco narrativo e personagens.
Mas, o que mais é preciso depois do entendimento destes predispostos básicos para nos tornarmos aquele tipo de narrador que encanta plateias. É simples: repertório. Isto é, conhecimento. De quê? De tudo. Do máximo possível. De artes plásticas, de cinema, de teatro, de música, de literatura. Recorramos às fontes. Um bom contador de histórias tem que ter para poder ter para dar.
Amealhar a atenção do público não se faz apenas com histórias bem urdidas, mas, principalmente, pela forma com a qual essas histórias são contadas. É também o “como” que essa história vai ser contada que fará – no final – a diferença. Está na hora, então, de chamar a Criatividade para fazer parte dessa cena.
Um líder que souber esquecer um pouco seus gráficos, suas metas, seus números frios, e ousar penetrar numa outra seara, num ambiente mais voltado para o lirismo e para o lúdico, tem tudo para atrair para a sua causa clientes e colaboradores. Tem tudo para enaltecer as marcas que ele defende. Tem todos os subsídios para atrair a atenção e admiração dos seus pares. Tem tudo, principalmente, para engrandecer o nome da sua empresa e do seu produto. O papel do contador de histórias, afinal, é o de encantar e, por que não dizer: inspirar.
Então, comecem:
– Era uma vez…

MAX FRANCO
Formado em Letras, tem 43 anos e é professor de Língua Portuguesa, Língua Italiana, Literatura e Redação, além de Guia de Turismo. Atualmente, atua como Coordenador de viagens pedagógicas do Grupo ATMO Educacional – Campinas e do Colégio Santa Cecília – Fortaleza. Professor de Storytelling do IBFE – Instituto Brasileiro de Formação de Educadores. Consultor de turismo e da Inova Business School.
Tem quatro livros publicados:
– Na corda bamba (2007): romance voltado para o público infanto-juvenil.
– O confessor (2008): romance adulto;
– No fio da navalha (2009): romance voltado para o público infanto-juvenil.
– Palavras aladas (2010): crônicas. Premiado pela Secult CE como melhor livro de crônicas de 2010.
– Palavras amargas (2012): contos. Premiado pela SME Fortaleza como melhor livro de contos de 2012.