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O Noel é filho da Coca-cola? Um caso de storytelling de sucesso
28 de dezembro, 2016 - por Max Franco
Você sabe o que é uma backstory?
isto é, uma história já conhecida que naturalmente tem a capacidade de atrair simpatia do público. Por exemplo, quando se utiliza uma figura histórica ou um personagem fictício de conhecimento geral.
No caso de um refrigerante, que tem um perfil sempre associado à leveza e à diversão, nada mais adequado do que fazer uso de um sujeito bonachão, alegre e generoso. Poderia, inclusive, me apropriar da imagem de alguém que viveu na antiguidade, com fama de bondoso, até de santo.
Nicolau que viveu na Antiguidade e que virou santo é o homem por detrás do mito. Na verdade, Papai Noel. Uma figura que também tem origem em tradições germânicas e nórdicas. O protestantismo sempre buscou um simbolismo diferente do católico, o qual, costumeiramente, enfatizava a figura do presépio. Assim, nasce um dos personagens mais famosos em todo o mundo, Mas ainda não estava completo…
Uma das pessoas que potencializaram o mito do Papai Noel foi o poeta e professor Clemente Clark Moore que, em 1822, escreveu para seus seis filhos o poema Uma visita de São Nicolau. Foi nesse texto que Moore trouxe a versão do trenó puxado por renas e da chaminé.
Seu atual visual foi obra do cartunista Thomas Nast, na edição de 1 de Janeiro de 1863 da revista Harper’s Weekly.
A imagem difundida e popularizada do Papai Noel tem uma origem comercial. A figura de um velho sorridente, com barba branca e roupa vermelha foi divulgada pela Coca-Cola em 1930, quando a Coca-Cola Company contratou o ilustrador Haddon “Sunny” Sundblom para a campanha publicitaria da empresa daquele ano. Foi aí que o Papai Noel ganhou a notoriedade que o transformou em um personagem de fama mundial.
Não podemos, na verdade, dizer que o Papai Noel foi criado pela Coca-Cola (Entendeu o vermelho agora?). Mas, foi uma apropriação de uma figura folclórica. Em outras palavras, uso de backstory. Existiria estratégia melhor para uma marca do que fazer uso de um personagem simpático que entra em todas as casas do mundo para distribuir felicidade para todos? Sucesso garantido! Por fim, o cinema, a publicidade e os programas de TV trouxeram a imagem para o Brasil.
Há boatos na internet afirmando que a empresa americana de refrigerantes teria inventado o bom velhinho. Mas a ideia de Papai Noel, mesmo com outra estética, já existia séculos atrás. O Papai Noel, na verdade, é fruto de uma mistura de relatos e culturas, em outras palavras, de um sincretismo ancestral.
Outro símbolo natalino, este atribuído a São Francisco, é o presépio. Teria sido o santo dos pobres que teria criado o primeiro presépio. Entretanto, cabe a pergunta: a qual símbolo associamos mais o natal?
– Podemos, entretanto, afirmar que o Bom Velhinho matou o presépio.
Basta ver, atualmente, o que prepondera: o distribuidor de presentes ou a cena bucólica? O Papai Noel é a vitória do capitalismo sobre a simplicidade. É que estoicismo não serve para o mercado.
O Papai Noel, em outras palavras, é um grande sucesso de Storytelling bem aplicado.
Não sei, porém, se é igualmente sucesso no campo de “espírito natalino”…
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