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O fundo do poço

14 de fevereiro, 2017 - por Max Franco

Depois de alguns meses, os dois amigos de longa data, se encontram para um café.

– Então, Eduardo, quais são as novas?

– Sem novas, Miltinho. -respondeu desanimado. – Na verdade, estou com o nariz achatado de tanta porta que já levei na cara. É impressionante como absolutamente nada dá certo. E o pior … putz, nem sei dizer o que é pior…

– Não há trabalho?

– Isto realmente é péssimo, mas não só.

– Cara, mas há luz no alto deste poço.

– Isto é um mito. Não há luz alguma. O poço está fechado. E também não há água. Há apenas o bastante para criar uma lama viscosa e fétida que não pára de subir.

– Eduardo, você não pode enxergar assim. Não ajuda…

– E o que ajuda, meu amigo? Quem ajuda? Quando se está desempregado, parece que você está doente padecendo de uma moléstia contagiosa. Lepra. Talvez lepra. Porque as pessoas somem, sabe? Antes, você era festejado nos lugares, convidado para churrascos e festas no fim-de-semana. Agora…

– Mas, sempre há os amigos.

– Lógico que existem. Diminuem ou se demonstram. As máscaras caem. Gente que você ajudou, emprestou grana, recomendou para trabalhar… Muitos simplesmente somem.  Fazem de conta que não vêem. Desaparecem. Três ou quatro resistem. Estes – sim – são os verdadeiros amigos e tentam lhe puxar do fundo do poço. O resto era só interesseiro.

– Eu entendo tudo isto, Eduardo. Você sabe que entendo porque passei quase um ano sem emprego. Você se lembra e ficou do meu lado. Mas, você tem que encontrar uma saída, meu amigo. Qual a opção?

– Desistir. Há certa satisfação em desistir, sabia? Acaba a angústia, o sentimento de inquietude que lhe invade. Você aceita a lixitude e pronto. Atira fora a sua dignidade e autoestima…

– Desistir não é alternativa de saída, Eduardo. E você é maior do que isto. Você é um dos sujeitos mais dedicados, criativos, empáticos e proativos que já conheci. Haverá um espaço para você. O que você tem que fazer é o contrário: persistir. A perseverança é a sua maior arma. Certamente, este período está sendo útil para aprender muita coisa útil.

–  Humildade, paciência, controle emocional…

– Isto. Claro. E você tem que usar este tempo disponível para aprender outras coisas, ampliar as suas competências, aperfeiçoar as suas habilidades, utilizar o seu networking, estudar…

– Estou pensando nisso. É uma boa ideia! Há coisas que eu sempre quis fazer e não podia por causa do trabalho.

– Você tem que pedir indicações, amigo. E marcar cafés com quem possa lhe abrir portas. Recauchutar o seu curriculum vitae e alargar as suas opções. Você precisa recomeçar, Eduardo. Não vai ser fácil, vai ser duríssimo, mas amanhã estaremos comemorando. Disso eu tenho certeza. Você vai conseguir porque você tem muitos predicados. Eu estou do seu lado. Aqueles que amam você sempre estarão.

– Obrigado, Miltinho. – disse Eduardo entre lágrimas. – Muito obrigado! Às vezes, isto é só o que precisamos ouvir.

– Ed, tem uma história de autor desconhecido que quero lhe contar:

“Certo dia, um homem estava no quintal de sua casa e observou um casulo pendurado numa árvore. Curioso, o homem ficou admirando aquele casulo durante um longo tempo.

Ele via que a borboleta fazia um esforço enorme para tentar sair através de um pequeno buracosem sucesso. Depois de algum tempo, a borboleta parecia que tinha desistido de sair do casulo, as suas forças haviam se esgotado.

O homem, vendo a aflição dela para querer sair resolveu ajudá-la: pegou uma tesoura e cortou o restante do casulo para libertar a borboleta. A borboleta saiu facilmente, mas seu corpo estava murcho e as suas asas amassadas. 

O homem, feliz por ajudá-la a sair, ficou esperando o momento em que ela fosse abrir as asas e sair voando, mas nada aconteceu.  A borboleta passou o resto da sua vida com as asas encolhidas e rastejando o seu corpo murcho. Nunca foi capaz de voar…”

 

– É o casulo que nos fortalece, amigo!