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Dos animais da floresta e dos tapetes puxados

04 de abril, 2017 - por Max Franco

Era uma vez, faz tempo, antes mesmo que o primeiro homem pusesse os pés no planeta, uma floresta peculiar onde os animais falavam.
Neste tempo, o rei era o Orangotango. Foi muito depois que os felinos se organizaram e depuseram os símios. Neste caso e em muitos outros, houve golpe.
Mas, não é dessa questão que quero tratar, mas de outra, a das relações humanas, isto é, animais.
Porque, nesta floresta em particular, tudo funcionava como uma empresa. O CEOrangotango era um gestor admirável. Aprazia-lhe a gestão participada, descentralizada, colegiada. Todos os animais sabiam das suas responsabilidades e cada um as cumpria com zelo e pontualidade. Os predadores caçavam não mais do que precisavam. Os ruminantes ruminavam. Os parasitam parasitavam. As hienas hienavam. Tudo como devia ser e teria continuado, não fosse o pato.
Todos sabemos da questão do pato. O pato nada, anda, voa, mas não faz nada bem. O pato não é bom em nada, mas inventa de fazer tudo.
O pato, no entanto, era aquele sujeito que gostava de se gabar. Vivia à sombra dos demais funcionários, sem entrar em divididas, sem críticas e criatividades, adulando os chefes e dizendo apenas o que era bom de ser ouvido.
Com os anos, o Pato galgou degraus na companhia e se tornou diretor. Era um sujeito venal, o tal Pato. Tratava com desdém os subordinados enquanto, com o próprio bico, catava os piolhos dos seus chefes. Não demorou para todos os animais perceberem que, mais do que competência e dedicação, o melhor estratagema para a manutenção dos seus cargos era a adulação. Foi aí que a floresta começou a declinar.
Tudo ia bem para o pato, até que o RA (Recursos Animais) percebeu a sua jogada, ou patada. O RA era um asno, mas não era burro, e se deu conta da estratégia do Pato que não era pateta. O RAsno começou, então, a pegar no pé do Pato. Pato aqui, Pato acolá, aonde ia, tinha o olho do RAsno a vigiá-lo.
Como acabou a história?
O Pato convenceu os símios que o RAsno era ineficiente. Que ele metia as patas onde não devia. Que ninguém devia por as patas em patos.
O RAsno não demorou a ser demitido e exilado da floresta. Asnos nunca foram bons em fazer políticas de prevalecimento.
Anos depois, o Asno voltou à antiga floresta e se assustou com o que viu. O bosque estava irreconhecível. A Coruja lhe contou tudo. Ninguém controlava mais os predadores que esgotaram quase todas as vidas num festim cruel de sangue e vísceras. E, na falta de caça, se canibalizaram entre os próprios. O Orangotango havia virado presa fazia anos. O Pato tentou correr, nadar e voar, mas como não fazia nada bem, foi servido no jantar com uma maçã na boca.
O Asno, desolado, saiu do antigo lar e foi buscar outra floresta. Mas, foi com um sentimento de culpa a escoltá-lo. Não conseguia parar de pensar que, se tivesse agido melhor e estudado as suas ações, não teria permitido que o Pato exercesse a sua má influência como o fez. Talvez, assim, a floresta tivesse permanecido com toda a sua glória.
Basta um animal na floresta a disseminar vícios e venalidades para contaminar toda uma floresta.
Basta um gestor dar ouvidos às adulações de um incompetente para comprometer a isonomia e a meritocracia da sua empresa.
Em todos os casos, geralmente, o resultado é o mesmo: o fim da floresta.
Qualquer asno enxerga.
Mais cedo ou mais tarde.