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Se eu fosse você, pai do Arthur…

09 de maio, 2017 - por Max Franco

Se eu fosse um pai, qual história contaria para o meu filho?

 

Ele nasceu antecipado. Ele que devia vir depois, veio antes, já anunciando ao que vinha. Que viria não só para ver, mas para vencer. Vivente como só ele sabe ser, veio vívido e vivaz, vivendo os segundos como fossem os últimos, mesmo sendo os primeiros.

Ganhou nome de rei, Arthur. E passou a reinar no coração daqueles que o amam, os quais, por mérito seu, são muitos.

Como um rei sedento de conquistas, se mete a viver cada dia como usa o sorriso, sem moderações ou economias.

Como um rei ansioso por vitórias, invade territórios e mais territórios dos afetos daqueles que tem a fortuna de conhecê-lo.

Arthur é um conquistador.

E com a sua espada-simpatia vai lutando contra as feras do mundo, as friezas cotidianas, as indiferenças, as truculências e antipatias.

O rei não conhece covardia nem desilusão. Guardado pela armadura da sua boa fé, parte a cada amanhecer para realizar os seus mais belos sonhos. Quais são? Ganhar o dia. Colher cada momento.  Rir seus risos. Amar os amáveis. Ser feliz, fazendo feliz.

Arthur é assim e não o digo apenas por seu pai. Pergunte a qualquer um, meu senhor! Pergunte para os que passam, para os que ficam. Pergunte e saberá que ele devora cada momento saboreando cada bocado que a vida lhe oferece. Arthur tem fome de vida e a vida gosta de ser sua refeição.

 

Ontem, inclusive, lhe contei uma história que muito parece com ele:

– Filho, a vida da gente é meio louca. Quanto mais eu vivo, menos sei explicar. Quando me sobravam anos, eu tanto entendia. Hoje, a cada dia que passa, compreendo menos. Acho que me tornarei velho antes de sábio.

– Pai, você fala tanta coisa engraçada. – diz ele no alto da sabedoria dos seus quase-dez anos.

– Acho que o nosso papel na vida é uma tarefa meio doida. Vou tentar explicar, Arthur.

– Imagino, pai. Vai fazer uma metáfora! Você ama metáforas!

– Isso! Uma metáfora! Na lugar de explicações técnicas e conceitos elaborados, sempre funciona muito bem uma boa metáfora. É o que sempre digo: os poetas entendem muito mais da vida.

– Pois, vai, pai! Cadê a sua metáfora? – disse ele animado. Arthur vibra com tudo que inquieta. – Imagine se o nosso papel na vida fosse acender uma vela que, a cada instante, aparece num degrau de uma escada rolante. Imaginou?

– Não, pai. Essa metáfora está complicada…

– Complicada não, surrealista!

– Não entendi esta de surrealista!

– Explico depois. Mas, imagine: uma escada rolante. Em cada degrau, uma vela para você acender. Uma vela por segundo. A vela é o momento, entende? Um momento para ser iluminado.

– Entendo. A escada nunca para. Sempre vem outro degrau. Como a vida.

– Você tem esse isqueiro, com o fogo que carrega dentro. A sua energia, a sua dedicação, o seu esforço… Tudo isso serve para acender a vela que aparece segundo a segundo.

– Estou enxergando, pai. – disse ele rindo.

– Mas, Arthur, e se você ficar muito preocupado com as velas que virão lá frente, sabe o que vai ocorrer?

– Eu vou me distrair e deixar de acender a vela daquele segundo.

– E se ficar choramingando demais pela vela que deixou de acender?

– Também vou perder outras velas.

– Isso! Você entendeu tudo!

– O importante é acender a vela do presente, não é, pai? E dar tudo de mim a cada momento!

– Exatamente como você é, filho! Um presente a cada presente, passado ou futuro. O importante é ser intenso a cada instante, como diz o poeta.

– Qual poeta, pai?

 

 

* * *

 

Cena pós-crédito:

– Pai, e o que é surrealista?

– Fica para a próxima, Arthur!!!