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Quo Vadis, Escola? Os desafios das escolas particulares no Brasil a partir de 2025

03 de novembro, 2024 - por Max Franco

Antes de tudo, faz-se necessário se dizer que o primeiro desafio deste texto é fazê-lo o máximo possível sucinto, afinal tratar dos desafios atuais da Educação Brasileira, mesmo se limitando às escolas particulares, se transformaria facilmente em teses e mais teses de doutorados. Fazê-lo em um paper de 40 linhas, portanto, é quase um atrevimento.

As escolas particulares brasileiras se encontram hoje em uma verdadeira encruzilhada, na qual o caminho para o sucesso é enevoado e sinuoso, o que sempre pede muita reflexão e equilíbrio constante a cada passo. De um lado, há uma pressão crescente por desempenho acadêmico elevado, com pais exigindo que a escola funcione como uma “máquina de resultados”, garantindo boas colocações em vestibulares e outros exames. Já de outro, o mercado também espera uma escola que conheça e acolha seus estudantes ao mesmo tempo em que desenvolva as suas habilidades socioemocionais. Essa busca por excelência exige um ajuste fino: como manter o rigor acadêmico sem transformar o espaço escolar em um ambiente tóxico?

O ensino de inglês, por sua vez, tornou-se um dos pilares estratégicos de muitas escolas brasileiras. Aquela história de “inglês de escola não leva à nada” definitivamente acabou. A demanda por fluência é intensa, e o idioma passou a ser visto como uma ponte indispensável para o futuro, o que leva as instituições a expandir seus currículos para incluir programas bilíngues ou internacionais. Para muitas escolas, não basta oferecer aulas tradicionais de inglês; é necessário inserir o idioma no cotidiano dos alunos, desenvolvendo o aprendizado em algo orgânico e funcional. O ensino de inglês surge como um “passaporte para o mundo”, por isso a fluência no idioma é cada vez mais valorizada e, para muitas famílias, representa uma vantagem competitiva para o futuro de seus filhos. Desta forma, o tal “Duplo diploma” está se transformando em um novo Santo Graal para a Educação particular.

A Inclusão é um tema à parte, de tal forma que não deve haver nem sequer um gestor escolar no planeta que não esteja preocupado com a questão. De maneira geral, não há muitos educadores que afirmem lidar 100% bem tanto com seus alunos neurodivergentes quanto com os que apresentam deficiências físicas. Isso exige que uma instituição se reinvente e crie estratégias que respeitem as diferenças, adaptando currículos, capacitando professores e proporcionando um ambiente de aprendizagem acessível a todos. A inclusão de alunos com TDAH e TEA, por exemplo, demanda sensibilidade e adaptação contínuas, afinal esses estudantes precisam encontrar na escola um espaço que respeite suas necessidades e ritmos de aprendizado. Isso implica investimentos em formação docente e adequação de metodologias. A inclusão desses alunos representa um passo em direção a um ensino mais democrático e abrangente. A verdade é que esse é um jogo disputado todos os dias, no qual nunca dá para se relaxar, porque o erro está sempre à espreita para dar seu bote. Por isso quem disser que é tarefa fácil está mentindo.

Outro aspecto é a inclusão de alunos bolsistas, que traz à tona o desafio de acolhimento e pertencimento. Oferecer bolsas de estudo amplia a diversidade, mas também pede que a escola seja um “porto seguro” nas quais as diferenças socioeconômicas não se transformem em barreiras. A integração plena requer um esforço conjunto da comunidade escolar para valorizar cada aluno, independente de sua origem. Para tal é indispensável que escolas se transformem realmente em comunidades e que vigore um sentimento solidário de mutirão, o que é diferente (bastante) de mero assistencialismo.

Por fim, as atividades extracurriculares – como artes e esportes – se tornaram um “tempero” essencial na formação dos alunos. Elas ampliam as vivências escolares, contribuindo para a formação integral dos jovens e ajudando na atração e fidelização de novas famílias. Em um mercado cada vez mais competitivo, oferecer um cardápio rico de experiências é a chave para que a escola não seja apenas uma instituição de ensino, mas também um espaço de crescimento pessoal e de desenvolvimento das potencialidades dos estudantes. Essas atividades complementam o repertório acadêmico e transformam a escola em um espaço vibrante, no qual os alunos podem explorar habilidades criativas e sociais.

A palavra repertório tem tudo a ver com as demandas hodiernas da Educação. O objetivo, portanto, é  o de oferecer o máximo possível de alternativas para que os alunos se encontrem e se desenvolvam na escola. Afinal se João gosta de computadores, que tal aulas de programação? Maria Eduarda ama cantar, por que não fazer parte de um coral na escola? Leonardo tem hábito de leitura, então ele pode participar do clube do livro. Pedro, por sua vez, tem altas expectativas acadêmicas. Ele pode entrar em salas de estudo direcionadas para as diversas olimpíadas pedagógicas que ocorrem no país.

Opções não faltam para serem oferecidas às famílias e aos alunos. Entretanto, a Escola não pode ser um carro com mil acessórios, mas com um motor ruim. E o motor de toda Escola é o mesmo: o acadêmico. Por isso que o mais importante de toda instituição educacional não é a sua tradição ou seu prédio, nem mesmo seu projeto político pedagógico nem sua tecnologia; o elemento que define o sucesso de qualquer escola é o mesmo desde que existem escolas: é a relação professor-aluno. Porque bons mestres são preparados, fundamentados, atualizados, empáticos, afetivos, acolhedores e comprometidos com o crescimento dos seus aprendizes. Uma escola pode deter de todas as tecnologias, usar uma penca de métodos, ostentar as melhores infraestruturas, oferecer mil cursos, mas se dentro das suas paredes não existirem grandes educadores, ela não tem nada.

E as 40 linhas foram mesmo para o beleléu.