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A roda gira
11 de julho, 2017 - por Max Franco
– Boa tarde!
– Boa.
– Eu gostaria de falar com a Ana Paula.
– Só um minuto.
(Não foi um minuto. Nem dois. Na verdade, foram muitos minutos. Enquanto isso, dava para se escutar um bate-papo do outro lado da linha. Ele reconheceu. Estavam comentando sobre a última temporada de House of cards, a série do netflix).
– Alô. Pois não?!
– Aqui é o Paulo César. Estou esperando para falar com a Ana Paula, do RH.
– Ah, sim. Você ainda está aí! Só mais um minuto, por favor!
(Também não foi. Mas, alguns minutos depois, outra vez fala ao telefone):
– Pronto. Pois não. É a Ana Paula. No que posso lhe ajudar?
– Ana Paula, obrigado por me atender. Eu sou o Paulo César, você se recorda?
– Paulo César?!
– Sim, Ana Paula. Eu estou me submetendo ao processo seletivo da empresa. Perdoe-me muitíssimo, mas, são já quatro meses. Mandei curriculum e fiz três entrevistas. A última fase foi uma dinâmica. Vocês me disseram que uma semana depois me davam retorno…
– Exato! Uma semana é o prazo.
– Perdão, Ana Paula. Não quero ser mal interpretado. Por favor, me desculpe, mas é que isso faz um mês.
– Eu que peço perdão, Paulo José.
– Paulo César.
– Paulo, vamos nos posicionar até o fim do mês. Não se preocupe que nós vamos procurá-lo para lhe dar retorno. Nós temos os seus contatos.
– Obrigado, Ana Paula. Perdoe-me, mais uma vez, pela pela ansiedade. É que nessa condição…
(Silêncio do telefone)
Passou-se um mês.
Dois meses depois, Paulo César foi contratado por outra empresa.
Dois anos depois, era diretor de departamento quando um curriculum caiu nas suas mãos. Era uma indicação para o RH, setor que estava dentro da sua pasta. A candidata já havia feito algumas entrevistas. No final da seleção, três bons candidatos tinham sido pré-selecionados para o cargo que estava aberto. A última fase deveria ser uma entrevista que ele deveria comandar.
Ana Paula chegou na hora marcada. Terno bem cortado. Maquiagem discreta. 33 anos, carreira bem construída, curriculum invejável.
– Olá, Ana Paula, como vai? – perguntou Paulo César com um sorriso.
Tudo bem. Ansiosa. Um pouco nervosa.
– Eu entendo perfeitamente. Mas, você foi bem indicada. Tem um belo CV.
– Muito obrigada.
– Mas, Ana Paula, eu tenho três bons candidatos para essa vaga. Acho que você entende que, nesta hora, tudo é levado em conta para escolhermos aquele que aparece com os melhores atributos para a vaga.
– Entendo. Claro que entendo!
Eu tenho, portanto, só uma pergunta para você. É uma pergunta simples. Até fácil. Se você se sair bem nela, o cargo é seu.
– Pois não.
– Qual é o meu nome?
– Como assim? – respondeu ela visivelmente angustiada. – Disseram-me apenas que eu deveria falar com um dos diretores da empresa. Não me disseram o seu nome. Como eu…
– Nós já nos conhecemos, Ana Paula. Não se lembra? Eu fiz entrevistas e uma dinâmica com você. Eu mandei dois emails e também telefonei para você. Como eu posso confiar a você um setor tão importante quando o de RH se você não se importa com as pessoas?
– Mas eu me importo. Veja só as minhas referências!
– Eu sou uma referência também, Ana Paula. Na verdade, uma excelente referência. Nesta empresa, Ana Paula, nós nos importamos com o produto, mas, principalmente, com as pessoas. Funcionários, clientes, candidatos… Todos são pessoas. Eu era uma pessoa e você me tratou com uma subpessoa. Infelizmente, não é o que desejamos aqui. Eu lhe desejo sorte, Ana Paula. A diferença entre a forma com a qual fui tratado e como estamos lhe tratando é muito grande. Imagina se eu demorasse uma semana para lhe dar essa resposta? E se fosse um mês? Ou nunca? Espero que este fato lhe sirva como aprendizado, Ana Paula. A gente sempre pode aprender. Aprender, principalmente, que todos merecem respeito, não importa a sua condição. Até porque a roda gira, Ana Paula. A roda gira.
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