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Aluno-protagonista
17 de julho, 2017 - por Max Franco
Leonardo não gostava de escola. Mentira, até gostava de escola. Gostava de pátio, corredor, quadra, colegas e cantina. Não gostava era de aula. Nunca gostara de aula. Aula lhe empurrava sono, tédio e um desejo incontido de afonia do professor. “Professor bom é professor mudo”, dizia.
Costuma, então, alegar doença, febre, lombalgia, dor de dente, câncer no cérebro… Mas, os pais não acreditavam mais. E, sem jeito, não tinha outra: acabava indo para a escola. Na verdade, para as escolas. Aquela era a terceira em três anos. Mais uma tentativa dos pais de Leonardo. “Dizem que esta escola é diferente. Os alunos gostam da escola, inclusive!”, disse a mãe esperançosa.
Leonardo, então, foi para a aula e, sem cumprimentar ninguém, se meteu na última cadeira, aquela encostada na parede, “melhor seria do outro lado da parede”, pensou ele.
– Muito bem, pessoal… – começou o professor com um sorriso jovial.- Vocês assistiram à aula sobre “Colonização” que recomendamos? Espero que sim. Exatamente a que está no nosso portal. Quem a assistiu? Muito bom! Vamos colocar estes que, por alguma razão, não a assistiram espalhados nos grupos que conferiram o vídeo. Grupos de 8, gente, como sempre. Escolham o líder e o relator.
– Qual vai ser a situação-problema, Geraldo? – perguntou a menina do lado e Leonardo só não estranharia mais se estivesse na Sibéria.
– A pergunta que vocês devem me responder é esta: Até que ponto a colonização portuguesa definiu as atuais condições brasileiras? Teríamos um quadro nacional com índices sociais melhores se tivéssemos sido colonizados por outras nações?
Leonardo não entendeu patavina quando um colega sacou do bolso o aparelho celular.
– Guarda isso, rapaz. O professor está vendo!
– E qual é o problema de ver? – perguntou o garoto. – É para a pesquisa. Alguns trazem o tablet, outros notebook. Eu prefiro pesquisar aqui mesmo.
– Mas e a aula, quando começa? – interrogou Leonardo.
– Você está brincando, não é? Esta é a aula. Em vez de o professor ficar falando e falando, nós assistimos aos vídeos em casa e depois vamos discutir na sala para resolver os desafios que os professores nos trazem. Na verdade, aqui preferimos chamar “tutores”.
– Todas as aulas são assim?
– Não. Há, também, fóruns, estudos do meio, jogos, projetos, até a aula tradicional também existe, mas, de maneira geral, há desafios que nós devemos superar.
– E as provas?
– Claro que há avaliações. A sua participação no grupo será avaliada, há exercícios no portal e, também, há provas comuns. E são bem exigentes. Por isso, você tem que participar bem das aulas e estudar em casa.
– Eu acho que vou gostar desta escola. Ela é mesmo diferente! – concluiu Leonardo.
– Então me diga a sua opinião. – provocou a garota que era a líder do grupo.
– Opinião sobre o quê?
– Sobre a colonização, claro!
– Eu não tenho a menor ideia.
– Não dá para ficar nessa, garoto! Tenha a ideia.
– Eu acho que foi pior por causa dos portugueses. – disse agoniado. – Teria sido melhor com holandeses ou franceses.
– É claro que não! – retorquiu outro adolescente. – Os holandeses colonizaram o Suriname. Estão melhores do que nós?
– E os franceses, a Guiana Francesa…
– Os ingleses fizeram um bom trabalho nos Estados Unidos e na Austrália.
– Bom trabalho? Em compensação, na Nigéria e na Índia…
– Índia foi colonizada ou dominada?
– Qual a diferença?
Leonardo foi para casa se sentindo nas nuvens. Pela primeira vez na vida, tinha se sentido bem numa aula. Pela primeira vez, não se sentiu um mero número em classe. Não era mais passivo, mas protagonista do seu saber.
Ele não via a hora de chegar o outro dia e a próxima aula. A maravilhosa próxima aula!
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