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A mochila
16 de maio, 2018 - por Max Franco
Mais um dia de vida, mais um no grande ônibus lotado.
A velha mochila apinhada de coisas, de coisas passadas, de coisas presentes, pendentes e possíveis, de remorsos e ansiedades, de medos e desejos, de misérias e conquistas, de vergonhas e satisfações, de mil coisas existentes e até da presença do vazio, está lá, ocupa espaço, pesa e incomoda quem a carrega e quem tem que lidar com ela.
Esta é a vida. A bagagem alheia pesa sobre todos.
Eu sei. Sou expert em ônibus lotados. Não obstante, pouca atitude traz tanto consolo do que o generoso ato do sujeito sentado que aceita manter por algum tempo, por certo trajeto, a sua mochila no colo. Quem conhece as agruras cotidianas da lotação sabe que esta ação é recheada de suma compaixão.
Porque todos têm as próprias mochilas.
E todas – mais ou menos – sempre pesam.
Somos competentes, porém, em notar as tralhas dos outros. ( E quanto pesam!)
Não percebemos frequentemente que também causamos sinistros e embaraços para muitos dos quais cruzam os nossos caminhos.
É que minha mochila está no meu ponto cego. A do outro, à vista.
É bom que na vida, de vez em quando, apareçam estas almas benevolentes que aceitam, ao menos por algum tempo, esta tarefa desobrigada, abnegada, voluntariosa: carregar os nossos pesos.
A boa vontade é um carregar recíproco da mochila, ora um, ora outro.
Porque o ônibus está sempre cheio e estafante.
A estrada é brasileira.
E o motorista – desconfio – está bêbado.
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