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O storytelling na política
08 de outubro, 2018 - por Max Franco
Não é de hoje que a política conta histórias. Já faz muito tempo que líderes de todas as latitudes montam narrativas com a intenção de engajar e mover o povo para determinadas direções. Hitler, por exemplo, urdiu diversas narrativas para convencer os alemães a seguirem as suas propostas. Entre diversos fatos montados nesse período, houve o famoso O Incidente de Gleiwitz , que foi uma operação de “bandeira falsa” realizada no dia 31 de agosto de 1939 por soldados nazistas que se passaram por soldados da Polônia e atacaram a estação de rádio alemã Sender Gleiwitz em Gleiwitz às vésperas da 2a guerra mundial. O intuito foi utilizar o ataque encenado como argumento para invadir a Polônia. A provocação foi a atividade mais conhecida da Operação Himmler, que foi uma série de iniciativas da SS com o propósito de simular uma agressão polonesa à Alemanha para servir de pretexto para justificar a invasão à Polônia. Funcionou.
Do outro lado, Churchill, o primeiro ministro britânico, também era pródigo em construir narrativas convincentes. Ele, por exemplo, através de um discurso memorável (We shall fight on the beaches ) conseguiu transformar uma retirada em vitória (a fuga de Dunkirk) e, com suas palavras, teve êxito em motivar o humilhado povo inglês a lutar contra o nazismo. Churchill foi a voz motivadora e inspiradora que ecoava nos ouvidos de todo aquele que empunhou armas contra o nazismo. Os grandes líderes da humanidade sabiam o poder que histórias as histórias possuem em envolver e mover as pessoas. Também funcionou.
Nestes casos, e em muitos outros, esses líderes fizeram uso do storytelling. Quem usa de forma eficiente essa metodologia – geralmente – consegue lograr êxito.
O Brasil dos últimos anos está convivendo exatamente com esse fenômeno: a luta (polarizada) de narrativas.
Temos, de um lado, bem à direita, um storytelling bem construído. Um candidato heroicizado por muitos, com fama de honestidade e de enaltecer os denominados “valores da família”. O discurso é, atualmente, música para os ouvidos de uma gama enorme de gente: segurança, estado mínimo, Deus acima de tudo… E para potencializar mais ainda a imagem inoxidável de herói nacional, o candidato é ferido gravemente em praça pública. O quadro é praticamente perfeito. Palco montado, protagonista martirizado, assembleia em êxtase.
Do outro lado, temos, porém, outro storytelling. Temos outro herói construído. Agora, envelhecido, combalido, aprisionado, mandelizado. A narrativa versa sobre perseguições políticas, judiciário conivente e enfraquecido, golpes e traições. Essa história também comove, engaja e mobiliza? A muitos, sim.
Nos dois casos, temos protagonistas extremamente diferentes e semelhantes. Propostas antagônicas, histórias diversas, públicos adversos e ideologias paradoxais. No que parecem, entretanto? Nas estratégias, na adesão das militâncias e na fome de poder.
Poder.
Poder e grana.
Líderes são adictos em poder e grana.
O povo? Resta ao povo, crer e morrer pela sua crença. Sacrificar-se pela ganância dos seus líderes.
As pessoas , desde sempre, acreditam nos discursos e nas narrativas montadas e correm na frente do canhão, armam o canhão e constroem os canhões que vão dilacerar seus corpos ou os corpos daqueles que amam.
Tudo porque acreditam em histórias.
Eles não sabem. As palavras têm poder. Palavras mudam o mundo.
Para o bem, e para o mal.
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