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A punição ao visionário

30 de outubro, 2018 - por Max Franco

É só uma pequena parcela dos milhares de visitantes que todos os dias frequenta os Museus Vaticanos que sabem  da importância desse extraordinário conjunto escultórico: Laocoonte e seus filhos.  Mas, qual é a história por trás dessa escultura?

Você – decerto – ouviu falar da guerra de Troia. Talvez tenha assistido à famosa produção hollywoodiana “Troia”, no qual o herói mítico Aquiles é encarnado pelo também mítico Brad Pitt.  Caso se recorde, Homero nos conta que, depois de anos de uma guerra sangrenta, os gregos elaboram o plano audacioso de esconder alguns soldados num enorme cavalo de madeira do lado de fora da cidade de Troia. É o tal “presente de grego”!

Não obstante, o sacerdote Laocoonte fica desconfiado e faz tudo que pode para convencer os demais troianos a queimarem o cavalo. Subitamente, ele fica cego, enquanto tenta dissuadir seus concidadãos. Então, um dos deuses gregos (de acordo com diferentes versões da história, a divindade poderia ser Atena, Apolo ou Poseidon) convoca serpentes marinhas mortais para devorar Laocoonte e seus dois filhos.

Laocoonte e seus filhos é uma das obras mais trágicas comoventes do período helenístico. É uma obra forte e de grande peso emocional. A escultura produzida em um dos momentos de maior florescimento artísticos da Grécia é atribuída a Hagesandro, Atenodoro e Polidoro. Tudo indica que a estátua é feita nos primeiros anos do cristianismo, mas foi encontrada só em 1506, justamente no momento de maior valorização da arte greco-romana, o renascimento.

 “Não aceitem o cavalo de madeira, presente dos gregos, ou seremos todos destruídos”. – Grita Laocoonte.

Os sacerdotes e adivinhos são personagens fundamentais na Mitologia Grega, porque estabelecem relação entre passado, presente e futuro. Laocoonte, com a sua advertência, não só quase frustra o plano grego, ele desafia os deuses. Ato que, geralmente, não passa despercebido pelos mesmos e sempre acarreta consequências das mais graves.

Será esse o destino daqueles que identificam o destino?  Aqueles que conseguem vislumbrar algo do futuro pelas frestas do tempo serão sempre condenados pela sua visão privilegiada? A humanidade nem sempre aplaude aqueles que se posicionam à frente do seu tempo. Alguns foram queimados em praça pública. Outros são calados. Muitos foram calados e queimados. O fato é que o visionário, aquele que alerta sobre os riscos do futuro, é muitas vezes confundido como traidor, rebelde, fatalista, pessimista e profeta do apocalipse. Quando Laocoonte grita ele incomoda muita gente e, por incrível que pareça, até de Troia. Quem quer ouvir más notícias? Quem gosta de ouvir previsões graves? Quem é admirador de verdades amargas?

Dizem que quem avisa, amigo é, mas ninguém quer ouvir os avisos de Laocoonte.  Por quê? Porque não agradam a ninguém. Não agradam aos troianos, nem aos gregos, nem sequer aos deuses.

Às vezes, é fácil concluir que os deuses preferem alguns e desprezam outros. Os deuses têm preferências.