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A Cicatriz
21 de janeiro, 2019 - por Max Franco
ESTE FOI UM DOS MELHORES TEXTOS DO CURSO MASTER DE STORYTELLING REALIZADO EM GUARULHOS NOS DIAS 18 E 19 DE JAN DE 2019. PARABÉNS À DIANA PEREIRA PELA BELA PRODUÇÃO.
Certa vez conheci uma garota que tinha uma grande cicatriz em seu braço esquerdo, seu nome era Camila, mas todos a chamavam por Mila.
Na época ela tinha 12 anos de idade, era muito tímida, usava blusas que cobriam seus braços para esconder a marca, talvez por conta disso, sua alto estima não era das melhores, depois de muita conversa, Mila acabou me contando sobre o acidente…
Era uma manhã ensolarada de domingo ela e seu irmão saíram para brincar no bairro, não se contendo resolveram irem até uma pequena descida que tinha no final da rua, ela se sentindo aventureira naquele dia decidiu descer com sua bicicleta, quando perdeu o controle e caiu, em sua queda fraturou gravemente seu braço que precisou de uma cirurgia, que lhe rendeu a cicatriz que ela tanto lhe dava repulsa.
No dia em que Mila me relatou o por que de tanta timidez, fiquei imaginando como era difícil para uma pré adolescente a aceitação de seu próprio corpo, passei vários dias pensando em como ajuda-lá, eu na época trabalhava na biblioteca do colégio em que ela estudava, então lembrei de um livro que eu tinha no acervo que chamava-se “Cicatrizes”.
Conversei com minha coordenadora e pedi permissão para levar a sala de Mila para a biblioteca e fazer uma contação de história.
Levei a sala no dia combinado e apresentei o livro escolhido, fala sobre um jovem que por conta de suas batalhas é cheio de cicatrizes, das quais ele não gosta, então resolve procurar o mago do reino para pedir que ele apague suas marcas tão horríveis.
Só que junto das marcas somem alguns pedaços de sua memória, passa alguns dias e ele volta ao mago e pede que ele conserte suas lembranças, porém o mago explica que não pode fazer isso, pois apagou suas cicatrizes, só então o jovem entende que cada cicatriz era um pedaço de história da sua vida.
Ao final começamos uma conversa na qual eu mesma mostrei minhas cicatrizes e contei as histórias de cada uma, outros alunos mostraram as suas e contaram seus relatos também.
Mila não disse uma única palavra durante todo tempo que estiveram na biblioteca, mas eu sabia que ela havia absorvido tudo o que dizemos naquela tarde.
Passado alguns dias veja tamanha minha surpresa quando a avistei, vindo pelo corredor com uma camiseta de manga curta com sua cicatriz à mostra, eu parei e a olhei, ela por sua vez veio ao meu encontro e me abraçou com carinho, quando o abraço se desfez ela me olhou nos olhos sorriu e seguiu seu caminho.
Diana Pereira
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