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Fake news e storytelling

28 de fevereiro, 2019 - por Max Franco

Então… As famosas, onipresentes e onipotentes fake news são modalidades de emprego de storytelling?

Sendo bastante claro: são!

Mas as fake news são storytelling da mesma forma que o partido nacional socialista era um partido político. Há tipos de narrativas e tipos de partidos. Os dois têm o igual poder de engajar adeptos e, obviamente, como mostra a história, de causar grandes estragos.

A expressão fake news, ou notícia falsa, é mais antiga do que parece. Segundo o dicionário Merriam-Webster, esse termo é utilizado desde o final do século XIX. A diferença dos tempos atuais está na velocidade e na escala de gente alcançada pela disseminação das informações falsas, principalmente por causa do advento das redes sociais.

O storytelling é uma metodologia que ajuda a promover, produtos, serviços, valores, candidatos, marcas, ideologias, credos… enfim, ideias, a partir de histórias. Como ferramenta, ele não é, a priori, nem boa nem má, tudo vai depender do seu uso. Pode ser usada para os fins menos nobres? O ideal seria que não. Mas o mundo real mora longe do ideal. A técnica do storytelling não só é usado de forma perniciosa, como já foi – e bastante (basta ver como o nazismo ou os sistemas totalitários fizeram uso da propaganda e como criaram as próprias narrativas). O problema, porém, é que não há qualquer indício que essa prática não vá se tornar ainda mais massiva e manipuladora.

O último processo eleitoral nos EUA, o plebiscito pró-brexit e as eleições brasileiras do último pleito bem o demonstram o que as fake news são capazes de fazer. As fake news são usadas, geralmente, para gerar boatos e reforçar pensamentos, através de mentiras e da disseminação de ódio,prejudicando cidadãos comuns, celebridades, políticos e empresas. Atualmente, há agências munidas de publicitários e estrategistas que são especialistas em gerar boatos “encomendados” para causar estragos em quem quer que seja. Se virar alvo, dificilmente escapa sem queimaduras graves na sua imagem. Recentemente, o departamento de justiça americano denunciou três agências russas, afirmando que elas teriam espalhado informações falsas na internet, o que acabou determinando a vitória de Trump nas eleições norte-americanas de 2016.

Existem grupos específicos que trabalham fabricando e espalhando boatos. São storytellers do lado negro da força? São. Quem tem as melhores intenções e um trabalho pautado em propósitos honestos, não faz uso de expedientes de tal natureza. Não há essa de “os fins justificam os meios” quando se deseja construir uma sociedade decente, porque os meios acabarão infectando os fins. Não como evitar esse contágio.

Esse tipo de storytelling que destrói a reputação de profissionais, candidatos e empresas em todo mundo tem o mesmo DNA daquele que dissemina campanhas contra a vacinação das crianças e que está provocando o retorno do sarampo.

As fake news não são invenções dos nossos tempos. No século 14, por exemplo, quando a Peste Negra assolava a Europa, milhares de judeus foram perseguidos e mortos por causa de uma narrativa montada. Os boatos diziam que o  próprio diabo os protegia da praga. Entretanto, em troca, eles deviam envenenar os poços dos cristãos. O resultado não podia ser diferente: em 1321, só em uma cidade francesa, em Guienne, perto de 5 mil judeus foram queimados vivos pela acusação de envenenamento de poços.

Mas como se vacinar contra essa doença tão disseminada atualmente? Só há um anticorpo contra as fake news: a informação. Fontes seguras, leituras, cursos e, é claro, sempre cruzar as informações. Nunca engolir nada sem uma avaliação detalhada e, jamais (JAMAIS) replicar qualquer informação de modo precipitado ou leviano.

Fake news são storytelling, mas, decerto, há maneiras mais úteis, humanas, lúdicas, estéticas e belas para fazer uso das narrativas.

Se uma palavra pudesse escolher, ela jamais aceitaria se hospedar em uma fake news. Não há condomínio pior para qualquer palavra que seja.