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PALAVRAS ERRADAS
11 de setembro, 2019 - por Max Franco
A vida não é fácil. Quer dizer: talvez seja para alguém. Há sempre gente com sorte, apesar de existir quem diga que não há essa coisa chamada de sorte. Mas sorte é igual às bruxas, “No creo en brujas, pero que las hay, las hay.” Por mais que eu acredite ou desacredite em algo, não é essa crença que determina se esse algo existe ou não existe. Nós acreditamos porque gostamos de acreditar. Gente é bicho que crê. Eu – por exemplo – creio (porque sinto na pele, nos ossos, nas costas e na cabeça) que viver é tarefa das mais difíceis. Tenho aí nessas quase 5 décadas de trânsito nesse mundo, tantas vezes doce e muitas vezes amargo, a impressão de que nunca me acostumarei ao que vejo, percebo e, principalmente, ao que me toca. Acostumei-me, porém, a ser desajustado, contrafeito e contrariado nesse mundo. Não grito, mas o meu sorriso é da mesma classe daquele que exposto quando me oferecem algo que não quero. Sorrio, mas digo não. Pois eu digo não a quase tudo que observo nesse mundo injusto. Digo não e há vez em que sorrio. É um sorriso de contragosto. Esse livro – portanto – é de negação. É um libelo contra tudo que reprovo, que é muito. Essas palavras são erradas por isso. Mais que erradas, são equivocadas, anacrônicas, aleijadas. São palavras atiradas, não ao vento, mas na cara. Palavras incômodas, desnecessárias e gratuitas. Palavras escritas como quem cospe algo que não conseguiu engolir. Palavras erradas é o fim da trilogia das palavras: Palavras aladas (2009) , Palavras amargas (2015) e, enfim, Palavras erradas. Mas como os três mosqueteiros eram quatro, essa trilogia pode ter mais livros. Não sei. O futuro dirá (e eu talvez não escute). Entretanto – por fortuna (para não dizer “sorte”) – há quem deixe a vida menos dura e essas palavras menos erradas. São para essas doces pessoas os meus maiores e melhores agradecimentos: à Raquel Verano, que fez toda a revisão, arte e elogioso prefácio deste livro e, principalmente, jamais desistiu de publicá-lo; ao amigo Doutor Denilson da Silva Peres, que deu razão de existir à orelha de um livro; aos amados fi lhos, mãe, pai, irmãos e amigos, os quais me presenteiam todos os dias o que eles têm de melhor. São todos lenitivo e consolo, descanso e apaziguamento, coragem e iluminação. Sim: 9 Palavras Erradas A D iluminação. São – todos – faróis na noite escura. E, por fi m, à Rebeca Benevides Pinto, a primeira que leu e aprovou esse texto, mesmo dizendo que é demasiado cáustico. “É ácido, mas é seu melhor texto”, disse. Além de tudo, ela me ama. Bastaria isso para agradecê-la todos os dias. Agora me resta agradecer a você, leitor. Livros só têm razão de ser se existir você. E você anda cada vez mais raro. Se você está aqui e não acolá, se você está com este livro nas mãos e não com outra coisa qualquer, essa atitude é digna de nota. Parabéns e obrigado. Mas – devo lhe trazer uma questão: Você que lê e (talvez) se fl agre apreciando essas palavras erradas não será também um desajustado?! Assinado: o Escritor Errado.
PREFÁCIO
As sensações que emanam dos fugazes textos de Max Franco são múltiplas e até contraditórias, como a própria vida, talvez porque na essência exija intensas descargas de energia vital. Nesses 14 contos a verdade nua e crua dói, mas é catártica, uma das funções da arte. E quando é possível suportá-la, põe o autor uns laivos de lirismo. Emoção é o que não falta. Palavras Erradas em sua grande maioria são contos perturbadores, como Presente de Quinze Anos, onde o leitor é forçado a refletir o quanto a cultura e a religião de um país influenciam nos relacionamentos homem e mulher. Ou em Felicidade Improvável, que relata a prostituição de maneira abusiva. Vivemos em um mundo de escaninhos onde a realidade salta e a imaginação entra, permutando-se: de uma à outra tudo existe. Há um mistério indevassável no homem que morre, mas está presente no seu funeral; na ironia do escritor que na fama desdenha dissimuladamente do seu público com a intenção de manipulá-los; do homem às margens do precipício de amar. Em pouco mais de 200 páginas, escrita em estilo denso, vertiginoso, que explora as mais diversas camadas da linguagem, concentram-se invenções estilísticas de uma narrativa cheia de quebra-cabeças utilizados como recursos de ridicularização e denúncia. Ultrapassado o cuidado de se abusar da linguagem, seguindo um recado seiscentista de Montaigne – quanta palavra para falar da palavra! – convém desconfiar o que está por trás desse jogo, como a instabilidade da vida e a fuga da realidade. Max é um artífice de mitologias, fundador de um não-lugar para suas criaturas. E qual literatura não se pretende fundadora de um jardim onde passeiem porcos comedores de pérolas? Palavras Erradas me parece mais forte quando através de seus corais, nuvens, filtros e espelhos, a vida é resultados de seus artifícios. Sim, os contos não são só tragédias. Mas não há tragédia maior para a linguagem do que a palavra exilada de seu peso mundano. Pela linguagem o homem morre. “Somos seres de linguagem” (Pierre Lévy), e isso também é uma tragédia. Morremos pelas palavras.
Raquel Verano Assessoria Literária Editora Observatório do Texto
ORELHA
O que poderia haver em comum entre duas pessoas com perfis tão distintos quanto um profissional de educação, escritor e amante das letras e um engenheiro de pesquisas com um espirito cartesiano e apaixonado por projetos?
Entre as poucas respostas possiveis, eu selecionei duas para apresentar este livro: “Palavras” e “ácidos”.
PALAVRAS ERRADAS poderia se intitular PALAVRAS ÁCIDAS. Ou então, se PALAVRAS ERRADAS fosse um livro de conselhos ou de autoajuda como as centenas que pululam as prateleiras de livrarias, seu titulo poderia ser : “Como despedir-se do seu melhor amigo sem deixar mágoas ?” ; “A vida tem realmente algum sentido ?”; “Como viver melhor assumindo seus erros ?” ou ainda “Você ainda acredita em Papai Noel ?”.
É um livro que descasca a pintura colocada só para esconder a ferrugem, que mostra a força bruta da pedra preciosa antes de ser polida, que corrói a madeira que parecia eterna, que digere fibras para liberar os açúcares tão necessários à vida. Mas nada disto foi feito gratuitamente ou pelo prazer de destruir. É um livro que mostra o rascunho do discurso que acabou na cesta do lixo, a celulite que foi apagada pelo photoshop, a penúltima faixa do lado B do vinil esquecido, a foto da familia feliz antes do divórcio. É um livro que desfaz o mito do politicamente correto, que mostra mais do que o inglês quer ver, que traz para a cena do palco o que acontece no backstage.
O prazer de ler PALAVRAS ERRADAS vai seguramente entrar em ressonância com a capacidade do leitor de assumir que todos nos varremos a poeira para debaixo do tapete. Até que chegue o dia da faxina geral.
PALAVRAS ERRADAS é o livro certo para pessoas que erram. Como eu. Como você. Como todo mundo.
Dr. Denilson da Silva Perez
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