Já fui acusado de muita coisa menos de ser habitué de Big Brother.  Na verdade, até aprecio, mas o de Orwell. É que 1984 realmente é uma obra obrigatória, ainda mais nos nossos tempos. Orwell, na sua distopia, fez um exercício de vidência. Mas, voltando ao reality show tão popular, de fato não tenho o hábito de acompanhar, mas como tenho olhos, ouvidos, frequento redes sociais, ando na rua e, principalmente, tenho filhos e noiva, não obtenho sempre êxito de ignorá-lo. Não é porque me considero acima de ninguém em cultura ou nada do gênero. É apenas pelo velho costume de não me interessar pela vida alheia.

Não obstante preciso dizer que há questões levantadas pelo programa que valem um comentário deste cronista do seu tempo. Minha filha, Ingrid, insiste faz tempo que o pai beletrista se posicionasse já que a temática anda tão em voga. Pois lá vem a posição.

A última edição do programa tem levantado diversas questões sobre as pautas mais discutidas na atualidade: preconceito, diversidade, sexismo e, em particular, o racismo. Entretanto, o que é digno de nota nesta versão do reality é que são justamente aqueles que se identificam mais com estas pautas que apresentam as atitudes menos admiráveis. São posturas que, a rigor, podem enfraquecer causas legítimas, porque acabam soando para determinados ouvidos como histriônicas, estereotipadas e extremadas.

Entretanto o que joga ainda mais cores neste quadro é o notório efeito “bolha social” que se salta aos olhos daqueles que acompanham o programa. É sempre bom lembrar-se de que bolha social é um grupo que partilha dos mesmos valores, cultura, gostos e hábitos.

Esta tendência é limitante porque evita o contato com o diferente, diminuindo o diálogo, a interlocução com posições diversas e o conhecimento de visões opostas às nossas. Isso pode causar uma “cegueira social” e, pior, dar a impressão de que há “lados” e de que o outro é composto por pessoas são inimigas. O processo de polarização política e ideológica, por exemplo, que enfrentamos nos tempos hodiernos se origina exatamente disso.

Sabe quando entramos no facebook ou em outras redes sociais e só vemos as postagens das mesmas pessoas, aquelas com as quais interagimos, e só encontramos os mesmos tipos de postagens? Pois é… Este é mais um exemplo de bolha social. Afinal, muitas vezes, acabamos tendo acesso apenas às postagens com as quais nos identificamos, o que só reforça os conceitos e as conclusões que já tínhamos. Por isso é tão importante que não percamos o contato com o contraditório, porque aquele que não concorda conosco nos ajuda a ver o mundo de forma mais aberta e apurada.

No BBB 2021, o efeito bolha é um fenômeno que brilha como fosse uma placa de neon e, por isso, serve para nos alertar sobre as nossas próprias bolhas nas quais estamos inseridos e, possivelmente, não enxergamos.

O mundo é sempre muito maior do que cogitamos e a Vida bem mais complexa. O que vemos não é só o que vemos nem o que escutamos é toda a verdade.

Ou alguma.