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Em busca de Deus
18 de agosto, 2021 - por Max Franco
– Quem é você?
– Sou eu, mãe, seu filho mais velho. – respondi-lhe sem surpresas, afinal a pergunta já não era inédita.
– É o Max Roger?
– Sim, mãe! Sou eu. Posso me deitar aqui? – perguntei-lhe e já fui me deitando ao seu lado, mas na cama, enquanto ela ocupava a rede de sempre. Em toda a sua vida, dormiu apenas de rede. Um hábito que trouxe direto do pequeno distrito de Ibicuã, onde nasceu e se criou.
– Você tem filho?
– Tenho dois, mãe. Você os conhece: a Ingrid e o Arthur. – disse-lhe mostrando as fotos do celular.
– São lindos! Eles nunca vêm aqui?
– Eles vêm sempre e vieram na semana passada, mãe. A Ingrid está na Espanha e o Arthur viajou para a praia com a mãe neste fim de semana.
– Na Espanha?
– Sim! Ela foi estudar lá. Volta só no ano que vem.
Ela se calou e foi se dedicar ao seu caça-palavras, enquanto retornei ao meu livro.
Minutos depois, a escutei reclamando.
– Isso está errado!
– O quê?
– Este caça-palavras está errado. Ele pede para encontrar a palavra Deus e não tem essa palavra.
– Deve ter, mãe!
– Pois olha aqui, menino teimoso! Sempre foi teimoso!
– Fui procurar Deus e, sem grandes demoras, o identifiquei ali, onisciente e onipresente, no canto da 3a linha.
– Mãe, procure de novo, com calma!
– Já procurei! Já disse que procurei e não achei. Não existe. Está errado!
– Mãe, vou lhe mostrar..
Foi que me dei conta de que encontrar Deus e apontar para ela somente a decepcionaria mais ainda e aumentaria a sua frustração. Não deve ser coisa simples ter consciência da perda da própria consciência. Quem foi que disse que precisamos saber de tudo. Pois há estes momentos nos quais até a ignorância é bem-vinda.
– Pois é, mãe. Talvez Deus não exista mesmo. Deve ser um erro!
– Eu lhe disse. Deus não existe coisa alguma. Fizeram este troço errado.
Ela se deitou apaziguada e retornei ao meu livro. Depois de 20 minutos absortos nas nossas atividades, eu lhe interrompi.
– Mãe, eu te amo!
– Hein? – perguntou ela como se não entendesse as palavras.
– EU TE AMO!
Foi que ela abriu um sorriso divino e disse:
– Eu também! Eu sou sua mãe!
– Claro que é!
Nessa tarde, eu perdi um Deus que encontrara e achei uma mãe que me esquecia.
Mas, o Amor jamais se esquece.
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