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O elogio ao erro

31 de dezembro, 2024 - por Max Franco

A humanidade se divide em dois grupos, os que concordam comigo e os equivocados. (Ariano Suassuna)

Ninguém gosta de estar errado.

A gente pode até gostar de errar, mas de estar errado, jamais.

Esse fenômeno deve estar, de alguma forma, associado ao nosso instinto de sobrevivência. Afinal, estar errado, abertamente equivocado, publicamente defeituoso, desarvoradamente enganado, é a forma mais vexatória de se mostrar vulnerável.

Não obstante, o erro, muita vez, é subestimado.

Basta que observemos a atual seleção brasileira masculina de futebol. Se nos atentarmos aos números, constataremos que o percentual de acertos de passes é absurdo. É algo, em torno, de 80 a 90% de precisão. Mas são passes para o lado, de 3 ou 4 metros, passes cartesianos. Um milhão de passes ajustados. Entretanto, quem foi que disse que a estatística é absoluta e universal? Afinal, quantos são realmente eficazes para colocar o atacante na frente do gol? Poucos, raros. O motivo parece fácil de se adivinhar: poucos querem ousar e errar. Menos ainda optam pelo drible ou por uma jogada mais atrevida. O resultado disso é evidente: um time previsível, burocrático, bocejante.

O fato imponderável é que quem não aceita errar não acerta.

Michael Jordan resumiu bem essa postura em uma das suas entrevistas:

– Errei mais de 9.000 cestas e perdi quase 300 jogos. Em 26 diferentes finais de partidas fui encarregado de jogar a bola que venceria o jogo… e falhei. Eu tenho uma história repleta de falhas e fracassos em minha vida. E é exatamente por isso que sou um sucesso!

O Esporte é sempre um excelente simulacro para a Vida.

Quem não aceita errar não acerta.

O mundo corporativo é outro território repleto de histórias deliciosas de erros e acertos extraordinários, alguns – inclusive – que mudaram o mundo. Desde a invenção da lâmpada incandescente, por Thomas Edison; passando pela descoberta da penicilina, por Alexander Fleming; até a criação do iphone, por Steve Jobs; todos estes engenhos tiveram uma coisa em comum: a superação do erro. Na verdade, dos erros..

Aprender sempre rima com se arrepender, portanto o aprendizado é o resultado de diversos enganos. Quem não quer errar jamais aprende. Este é o impeditivo para diversas aprendizagens sabotadas. Você quer aprender um idioma? Não há escapatória, aprenda a lidar com o erro. Você quer aprender a praticar algum esporte? Aceite que vai errar muito até fazê-lo com alguma excelência.

Assim também é a Vida. Ninguém nasce sabendo viver. Você não viveu antes. Você não sabe nada ou quase nada da Vida. Você não sabe o que são as coisas, quem são as pessoas, os nomes das coisas, os nomes das pessoas, você não sabe nem sequer quem é você. Você, então, não tem saída, vai ter de cometer erros e mais erros até alcançar algum desempenho nesse enorme desafio que é aprender a viver.

Há todo tipo de erro e erros de diversas texturas, cores, medidas. Erra-se geralmente por ignorância. Eu não sei? Vou errar. Mas erra-se também por se achar muito sabedor. É o erro por excesso de segurança. É o piloto que, de tanto voar, de tantas milhas acumuladas, não checa todos os aparelhos e confia demasiado na própria experiência. E, por fim, há o erro de quem confia pouco em si mesmo, o erro da falta de segurança. Evite essas pessoas e, principalmente, evite ser uma delas. Evite também ser aquele que confia muito no próprio taco sem o esmero necessário. É o ignorante com iniciativa, uma verdadeira praga em qualquer contexto.

A questão é que há erros e erros. Alguns são mais fáceis de manusear. Outros, não. Há falhas sobre as quais a Vida não tem a menor paciência e não há resiliência que resolva. Resta-nos, portanto, acertar nos erros que estamos dispostos a cometer, porque existem multas demasiadamente caras e outras que são impagáveis. Então, se quiser errar, erre direito.

Afinal, como diz outro gênio, um dos maiores, Fernando Pessoa:

“Navegar é preciso; viver não é preciso.
Quero para mim o espírito [d]esta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.”