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Respire – Uma jornada da heroína diferente
07 de agosto, 2022 - por Max Franco
Depois vamos descobrir, a partir de inúmeros (às vezes demasiados!) flashbacks, que Liv, além de ser uma advogada viciada em trabalho de Nova York, tem que lidar com os próprios demônios. Respire mostra que a jovem precisa enfrentar os desafios provocados pelo acidente aéreo: a luta pela sobrevivência em um local hostil e estranho e a peleja para apaziguar os dilemas causados pela sua história.
Sabemos que toda história é a narrativa de como um personagem tenta resolver um problema. Toda história, a rigor, só existe por causa disso, porque temos protagonista com problemas. Para Campbell, famoso mitólogo americano, o herói precisa sempre lutar contra dois dilemas, um interno e outro externo.
Para Christopher Vogler, no seu “A jornada do escritor”, é a resolução de um que proporciona condições para a solução do outro. Mas, qual primeiro? Não há primeiro. Há durante.
É o que vemos em Respire.
Ao longo dos episódios, a jornada de Liv consiste em confrontar seus demônios interiores e os seus, inúmeros, obstáculos exteriores. Vamos descobrir que a protagonista Liv Rivera (Melissa Barrera) enfrenta questões antigas com a mãe, problemas de relacionamento com o pai e tem um namorado que ela faz de tudo para distanciar. Por sua vez, a sinopse da minissérie diz: “Nesta série cheia de suspense, uma mulher luta para se manter viva após seu avião cair num local remoto”, mas essa é só uma das dificuldades encaradas por Liv.
Outro elemento Campbelliano que vemos no enredo é a presença, quase constante, do mentor, no caso, dos mentores. Há sempre mentores, personagens que aparecem para nortear a heroína. Entretanto, nem sempre esses mentores dão os melhores conselhos. Nem sempre servem para motivá-la nem para apresentar soluções. Portanto, aqui temos o “mentor não-confiável” em vez de “narrador não-confiável”.
Liv é também uma espécie de MacGyver atrapalhada, porque nem todas as suas tentativas de criar soluções para sobreviver são exitosas, o que faz da personagem ainda mais convincente.
Há, não obstante, quem acuse a série de ser uma longa sessão de psicanálise vendida como uma série de ação. E, por isso, pode ser uma decepção para os aficionados pela categoria.
Mas gosto é mesmo coisa pessoal.
A meu ver, é exatamente essa mistura explícita de dilemas existenciais que faz a série ser diferente. Afinal, pouco a pouco, vamos descobrindo os motivos pelos quais a protagonista é quem ela é. Porque evita a intimidade. Porque trabalha tanto. Porque é tão solitária. Porque tem suas inseguranças. Porque não se permite desistir. E são essas essências que a empurram para as decisões que acaba tomando. Afinal, como acontece com todos nós, essências geram estâncias.
Liv uma personagem empática. Ela é falha, incompreensível, incoerente e egoísta. Mas também é persistente, ousada, corajosa, inventiva e lutadora. Em outras palavras, é complexa. Exatamente como todos nós somos.
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