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Educação, Finlândia e Brasileiros

11 de setembro, 2022 - por Max Franco

No dia 2 de setembro de 2022, 23 educadores brasileiros embarcaram para Helsinki com uma pergunta na mala:

-A Finlândia ainda tem algo a ensinar ao mundo quando se fala em Educação?

O país do norte tem figurado, nos últimos anos, entre os primeiros do mundo do ranking PISA da OCDE*, mantendo uma constância que tem chamado a atenção dos demais países.  

 Em 2014, tinha passado algumas semanas conhecendo o sistema educacional da Finlândia e da Suécia. Não preciso dizer aqui como fiquei impressionado. Não é por nada que estes países, há vários anos, lideram os rankings do PISA como líderes mundiais em performance acadêmica, se destacando pela excelência na educação, alta qualificação de professores e por repensar –  com frequência – seu currículo escolar.

Como já o declarei anteriormente, sempre declaro que o centro da questão não é a tecnologia, como muitos atribuem, mas o que explica por que a Finlândia é uma das nações campeãs do mundo no ensino é que a Educação por lá não é só projeto de estado, mas de governo e, por isso, é a prioridade.

Há muitas semelhanças entre a Finlândia de 2014 e a de 2022, mas algumas realidades se modificaram. O país está mais pobre depois da pandemia e, em virtude de levas e mais levas de refugiados. Em 2014, não me lembro de ter visto pedintes nas ruas. Em 2022, eles estão lá. Outra prova da crise econômica é a recente greve de professores. Uma greve feita em busca de melhores salários. Pois é, parece que nem tudo são flores nas geladas terras finlandesas. O mundo, afinal, empobreceu, adoeceu e complicou-se mais ainda. Lógico que esses ventos soprariam para o Norte. E os ventos trouxeram um inverno mais duradouro.

A Educação, decerto, também foi sofreu alterações. As metodologias ativas, por exemplo, são utilizadas, os professores a conhecem e exploram em sala de aula. Mas, a aula tradicional está lá, expositiva, explanada e francamente usada. Sabemos disso não por por conceito, mas porque estivemos in loco, vimos com os próprios olhos, entrevistamos diretores, professores e alunos. 

Inclusive, pudemos conferir as estruturas físicas das escolas e universidades. São limpas, organizadas e funcionais, mas nada glamoroso ou fora do comum. Então, voltemos à pergunta inicial: a Finlândia ainda tem algo a ensinar ao mundo quando se fala em Educação?

Claro que tem, mas o segredo não é mais segredo e está centrado numa obviedade: a formação do professor!

Tornar-se professor por lá ainda é tão difícil quanto ser médico. Ainda não há grandes discrepâncias de salário entre os profissionais. Todo mundo paga muito imposto, mas há uma enorme diferença: o governo governa para o povo, o que faz com que os finlandeses confiem no seu governo.

A formação dos professores, portanto, é apontada como a principal razão do sucesso do ensino finlandês. Mas, não é só isso, continua havendo muito tempo para planejamento das aulas e, obviamente, a exploração das metodologias ativas, em especial, dos projetos.

De maneira geral, os alunos gostam da escola e não se sentem tão pressionados. Na Finlândia, os alunos entram na escola às 8 e ficam até meio-dia. Há tarefas de casa, vestibulares e avaliações, mas o conteúdo exigido é muito menor do que o contido na grade curricular brasileira. A competição entre os alunos, portanto, é muito menos estimulada. “Aqui na Finlândia é muito bom. Somos felizes, gostamos da escola e sabemos que, mesmo que não sejamos os melhores, teremos espaço no mercado de trabalho e o Estado não nos deixará na mão!”- disse-nos uma aluna em sala de aula quando questionada.

A Finlândia é uma das maiores potências educacionais em todo o mundo, mesmo sendo um país pequeno. A Finlândia também está entre os cinco países mais inovadores do planeta. Segundo o Fórum Econômico Mundial, o país é o número 1 em capital humano, liderando o ranking de 130 países em três categorias, que variam de zero a 54 anos, de um total de cinco categorias por idade. 

A história de sucesso da Finlândia deu início nos anos 60, período em que um país pobre, sem grandes perspectivas, passou a investir os lucros da indústria de papel e celulose para o financiamento de políticas de bem-estar social. Nos anos 70, uma reforma definiu o ensino gratuito para todos e priorizou a formação de mão de obra qualificada. Essa evolução foi essencial para que, nos anos 90, despontasse uma poderosa indústria de telecomunicações no país.

Se a educação ajudou a transformar a Finlândia numa economia menos dependente de recursos naturais e cada vez mais voltada para o conhecimento, agora ela deverá ajudar o país — que celebra em 2017 o centenário de sua independência — a dar outro salto. Se todo o mundo olha para a Finlândia como um exemplo, por que não vender suas melhores lições para quem quiser comprar?

Hoje, a Finlândia é uma das nações com maior índice de leitura da Europa: são 70 milhões de livros emprestados das bibliotecas públicas num país de 5 milhões de pessoas. Ao longo de décadas, a Finlândia construiu um sistema que prima pela qualidade na construção do conhecimento e pelo bem-estar das crianças. Elas começam a ser alfabetizadas aos 7 anos. Antes disso, passam por creches e pré-escolas em que o foco é nada além de brincar, especialmente ao ar livre. O inverno glacial não é desculpa para ficarem trancadas. A rotina é a mesma até quando o termômetro registra 15 graus negativos.

As aulas são cada vez mais interdisciplinares. O novo currículo nacional propõe, por exemplo, que disciplinas como ciência, matemática e música possam ter aulas integradas em um projeto. Antes mesmo da mudança, os professores já colocavam em prática duas vezes ao ano módulos de “aulas sobre fenômenos”, que combinam conteúdos para tratar de temas do cotidiano.

Os professores têm lugar de destaque na sociedade finlandesa. A carreira é valorizada e, para pisar numa sala de aula, é preciso ter mestrado. Em 2015, a taxa de aprovação nos cursos de formação de professores foi de 4,2%. Ou seja, lá é mais difícil ser professor primário do que ser médico, cujo índice de aprovação nas faculdades é de 8,8%. Embora não recebam salários extraordinários, os vencimentos mensais de 2 800 euros permitem mais qualidade de vida do que a maioria dos professores no Brasil.

Sobre o papel dos pais, tivemos uma resposta surpreendente dos professores: o quanto menos na Escola, melhor! Em outras palavras, a Educação de crianças e adolescentes na Finlândia se concentra majoritariamente nas mãos dos profissionais e os pais interferem pouco. Resumindo: música para os ouvidos dos professores brasileiros, sempre tão afrontados pelas famílias (sempre tão em guarda!). 

Por fim, terminamos nossos dias de Finlândia reconhecendo seus valores e, principalmente, entendendo no que podemos (e devemos) investir. Sabemos que os contextos são muito diferentes. O número de estudantes no Brasil, por exemplo, é muito maior do que os finlandeses. Ao compreender as variáveis, devemos nos motivar a tentar uma evolução na Educação brasileira, sem se esconder atrás de desculpas, mas focados em prover aos educadores a melhor e mais contínua formação. Como diz Morin: precisamos educar os educadores!

 *(https://blog.lyceum.com.br/ranking-de-educacao-mundial-posicao-do-brasil/#Confira_o_ranking_completo)

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