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Disney e Dachau
07 de julho, 2016 - por Max Franco
Certa vez, faz tempo, apresentei para a dona de uma famosa agência de turismo de Fortaleza o roteiro de uma viagem para a Europa. Ela fez poucas críticas. Sugeriu algo aqui. Ponderou algo acolá. Nada demais. Só de um detalhe, ela ferrenhamente, discordou: Dachau!
Turismo é para trazer alegria, Professor Max! Retira o campo de concentração. Ninguém gosta de campos de concentração (até hoje não sei como ela – sozinha, sem ajuda, sem consultar o google – conseguiu chegar a essa conclusão tão elaborada.)
A nossa viagem é pedagógica. A História… – tentei argumentar com a maior boa vontade.
Esquece a História, professor! Faz assim, tira esse dia de Munique e coloca mais um em Paris. Tem a Eurodisney, sabia?!
Nessa altura, era eu quem estava cogitando concordar com campo de concentração. Para ela.
Na minha vida de educador, foi uma das situações mais recorrentes. Todo mundo se acha pedagogo com trabalho de mestrado sobre Paulo Freire . Poucos se arriscam a dar pitacos a engenheiros ou cirurgiões, mas a maioria acredita que pode ensinar a Escola a fazer o seu trabalho. É um caso crônico (e agudo!) de ingerência que sempre aborrece a todo educador. Todo mundo acha que sabe mais fazer Educação do que qualquer professor. Sugestões e críticas, naturalmente, são bem-vindas. Mas lidar com arrogância e com imposições levianas é um chute na Holanda. E, agora, nesta época de whatsapp, essa prática foi potencializada com tal volume que até me assusta que alguém ainda queira se meter nesse ramo. Melhor seria, já que sabem tanto como se faz uma escola, se cada um abrisse a sua.
Eu e as minhas digressões gratuitas… Aiai.
Onde estava? Sim. Na mulher da disney… Por fim, encerrei o papo me utilizando da minha singeleza habitual. Disse-lhe que preferia mil vezes Hitler ao Mickey e lhe desejei sucesso. Nunca mais a vi. Soube que não teve muito sucesso. Que pena…
A questão é simples: para entender a natureza humana, antes Dachau do que Disney.
O fato é que absolutamente nada ou ninguém foi mais nocivo ao Homem, na sua jornada nesse planetinha, do que ele mesmo. Dachau é um monumento erguido à intolerância absoluta. O homem foi tão incompetente ao lidar com as diferenças dos seus semelhantes que erigiu uma indústria da morte. Singelo.
Somos tão complexos, de qualidade tão elástica, que, com uma mão construímos catedrais e, com a outra, campos de concentração. Somos engenheiros do céu e do inferno. Artífices do pão e da espada. Indústrias do bem e do mal. Do melhor e do pior. Ambos, conviventes, renitentes, convenientes ferramentas sempre ao alcance da mão. Somos dignos de orgulho e de pena, de admiração e de asco. Anjos e demônios de nós mesmos.
Basta uma horinha em campo de concentração para entendermos essa aterradora ambiguidade. Na disney, se aprende o quê?
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