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Os pais da Parangaba e os de hoje
08 de agosto, 2021 - por Max Franco
Quais as diferenças nos enredos de campanhas de publicidade atuais para aquelas do passado?
Em suma, em 2021, o homem está autorizado a ser vulnerável, sensível e empático.
Para quem tem uma carteira de identidade mais novinha, considera ordinária esta imagem do homem-sensível tão difundida nos 2020’s, mas quem nasceu no Hospital César Cals em 1970 e foi criado na Parangaba na década de 80 pensa diferente.
Nós, da Parangaba, bairro periférico de Fortaleza, fomos criados ouvindo que homem não chora. Que se apanhar na escola, apanha também em casa. Que cozinha não é lugar de homem. Que homem que é homem não vacila, passa o rodo mesmo, não nega fogo e jamais pode ser mole.
Para dizer a verdade, a gente da Parangaba não era assim tão diferente das de outros bairros, no Brasil inteiro, nas décadas passadas. Homens e mulheres exerciam papeis com pouca mobilidade de atuação.
Como se sabe, atualmente, o machismo e patriarcalismo não são danosos apenas para as mulheres. Apesar de, decerto, são mais.
Meu pai, por exemplo, um militar com cara, jeito e pensamento de militar era pouco afeito a susceptibilidades. Ele se sentava à mesa no almoço e esperava que a minha mãe preparasse seu prato. Isto é só um símbolo de todo cartilha do macho alfa que ele seguia à risca, mesmo pagando também caro por isso.
Meu pai era o contrário do sensível, até porque a sua vida o endurecera demasiado. Meu avô ministrava surras costumeiras e, como o próprio alegava, serviam até quando não tinha motivo aparente. Serviam pelas coisas que meu pai aprontara e ele não sabia. Era a surra com juros. E isso foi apenas o começo de uma vida repleta de agruras. Fora isso, ainda havia a cultura da época, as narrativas que imperavam, os personagens do cinema, o pacote macho-man onipresente.
O velho morreu há vinte e um anos e não se deparou com as profundas transformações no comportamento e na cultura do mundo atual. Não obstante, não estou seguro de que ele os rejeitaria. Talvez até aprovasse. Talvez se sentisse alforriado das correntes de um machismo sem sentido. Talvez até se sentisse libertado.
Sei que meu pai não foi o melhor pai. Talvez tenha sido o pai possível naquela época, na Parangaba.
Eu tento ser o melhor homem e pai possível, neste tempo e neste logradouro.
E, daqui do meu lugar, me sinto confuso, escuto meus filhos, meus pares, as pessoas do meu tempo. Por sorte nem todas são da Parangaba dos anos 80. Muitas me ensinam a mudar o tom das piadas, a olhar e falar diferente, a pensar de outra maneira.
Em compensação, não vou bancar o “descontruído”, até porque não sei o que é descontruir. Prefiro construir do que descontruir, e o que não presta deve ser mesmo é destruído. Nestes anos, sei bem que tive que destruir tantos comportamentos e mentalidades. Da mesma forma, não me vejo usando “todes” nem “meninxs, não por falta de respeito às pessoas e suas natureza, mas por um profundo amor pela Língua portuguesa. Enfim, espero me aperfeiçoar procurando aceitar e respeitar todo mundo sem ferir o idioma de Camões. A língua, afinal, é um organismo vivo, que também pode ser agredida e, pior, querer se vingar. Melhor evitar.
Por fim, tento não julgar os homens e os pais de outrora, porém tento mais ser um homem e um pai do meu tempo, e meu tempo é agora.
O agora é um lugar melhor para ser homem e pai. Afinal, homens e pais podem ser inseguros, vulneráveis, sensíveis, como também não precisam ser fortes, poderosos, sérios, nem saber de tudo o tempo inteiro.
Mesmo assim, ainda podemos ser os heróis dos nossos filhos e lhes servir como modelo, não porque somos perfeitos e intangíveis, mas porque somos seres humanos capazes de amar e de amar demasiado.
É justamente sobre estas pautas que versam as campanhas de publicidade mais aclamadas de 2021:
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