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Desnecessário

20 de novembro, 2021 - por Max Franco

Sevilha – Viena – Praga, dias 6 e 7

 

O hostal (traveller box) em Sevilha não é exatamente o melhor lugar do mundo para se ficar, mas a relação custo x benefício se justificou e, também, a nossa foi apenas por uma noite. Estávamos cansados, afinal além do trajeto em ônibus de Granada à Sevilha, meu reloginho chinês apontava que eu tinha caminhado uns 14 km, sendo, alguns destes, para cima quando fui ao Alhambra. Dormimos pesadamente e, logo cedo, fomos para o aeroporto de Sevilha de ônibus. Na verdade, 2 ônibus. Ao chegarmos, tomamos um café frugal e, sem grandes demoras, já estávamos num avião da Lauda air a caminho de Viena.

Aproveitei o as três horas do voo para escrever o post do dia anterior, exatamente como faço agora. Por que escrevo? Porque, ao escrever, revivo, registro, ressignifico, ressinto e, ainda, remeto para algum ocioso que, porventura, possa ter interesse pelo que estamos vivendo, eu e a Ingrid, como também pelas repercussões destas vivências nas minhas reflexões.

Como chegamos à Viena meio atrasados, precisamos correr para a estação de ônibus da qual parte o flixbus para Praga. Preciso dizer que todas as programações e reservas do itinerário que fazemos foram pensadas por ela Ingrid. Eu teria preferido conhecer Córdoba e Málaga em vez de voltar à Praga e Viena,  capitais nas quais estive em outras oportunidades. Entretanto, preferi priorizar os projetos dela mesmo porque voltar à Praga e Viena está longe de ser chamado de sacrifício.

O fato que me gerou mais satisfação foi (está sendo) a protagonização que ela assumiu na jornada. É ela, afinal, que diz para onde vamos, em que hora vamos, quais transportes pegamos, se dobramos à direita ou à esquerda. Na última vez que viajamos, na viagem de pai e filha 1′, em 2015, quando fomos sozinhos para País de Gales, Irlanda, Hungria, Croácia e Eslovênia, tinha sido meu este papel. Em outras palavras, ela me “seguia”. Hoje não. 6 anos depois, sou eu que a sigo. E sigo com confiança absoluta e justificada.

O único senão tem a ver com a noite de hoje. Ela tinha planejado chegar ao aeroporto de Viena no fim da noite e dormirmos lá mesmo. Coisa que fizemos em Budapeste, em 2015, porque o nosso voo partia às 4 da manhã. Desta vez, eu capitulei e marquei um hostal em Viena. Há fases na vida de um sujeito. Os 51, definitivamente, não é uma fase apropriada para se dormir no chão.

Não obstante, de maneira geral, sou eu que a sigo e sigo feliz. O papel de todo paí deveria ser de motivar e dar condições para que seus filhos se tornem autônomos e independentes. Todo pai e toda mãe deveriam, a rigor, criar seus filhos para que não precisem mais deles. A razão é óbvia. É que, mais dia, menos dia, não haverá nem pai nem mãe para segurar qualquer onda. Pai e mãe devem se tornar desnecessários.

Pois esta foi a maior satisfação desta viagem. Mais do que conhecer Granada e Sevilha ou rever Praga e Viena. Mais do que revê-la depois 4 meses. Mais do que apreciar uma boa cerveja da boemia, ou uns pratos típicos da República Tcheca, tais como “trollos” e “langos”. O melhor foi ver que ela dá conta sem mim.

Um dia, 30 anos atrás, fui eu que desci no aeroporto de Fiumicino em Roma para viver a minha experiência de morar fora do país. Eu não sabia de nada, nem a língua entendia. Não havia internet nem essas coisas que facilitam tanto a nossa vida. Mas agora, a história é dela.

Afinal essa é a Vida: uma corrida de revezamento. É a vez dela correr.

Vida é prefácio e texto inacabado. A conclusão é feita por quem acompanhará a nossa morte.

Morrer é da vida.