https://www.maxfranco.com.br/artigos/a-criatividade-tem-mae/

A Criatividade tem mãe

22 de março, 2020 - por Max Franco

Platão dizia que a Necessidade é a mãe da Criatividade.

Vê-se que é da natureza humana esse hábito de buscar soluções para os seus problemas. Uma prática que nos tirou das cavernas, nos fez inventar a pecuária e a agricultura, e criar toda sorte de tecnologias. Ser humano é ser criativo desde que se sabe humano ou talvez seja humano justamente porque criou a própria humanidade.

A verdade é que o ser humano só chegou até o momento atual nas condições nas quais se encontra porque foi capaz de criar um sem número de soluções. A cada desafio proposto pelas intempéries, pelos ambientes, pela natureza ou até por outros humanos, a humanidade foi testada, mas, mesmo com as imensas baixas, superou todos os obstáculos. Hoje somos 7 bilhões de humanos tentando viver nesse planetinha castigado por nós mesmos.

O tal planetinha, entretanto, vez por outra apronta umas conosco. Deve ser por vingança. Talvez como um mero aviso: “Vocês não são tão fortes assim. Prestem atenção!”

Os últimos anos são prova dos efeitos da nossa arrogância como espécie e uma demonstração do que a natureza poderia fazer caso quisesse. A Natureza é uma entidade temperamental e já deu provas disso. A gripe espanhola, iniciada em 1918, talvez tenha matado mais de 20 milhões de pessoas; a peste negra, na idade média, deve ter matado 50 milhões; a varíola, entre 1890 e 1980, 300 milhões; a tuberculose, velha conhecida, pode ter ceifado a vida de quase um bilhão de seres humanos. São números que deixariam com inveja Hitler, Mussolini, Rei Balduíno, Cortez, Pol Pot, Stalin, Mao Tse Tung, Gengis Khan e outros genocidas da história. São números que colocam o ser humano em segundo lugar na modalidade de matar outros seres humanos. Somos competentes em nos trucidarmos, mas há quem o faça melhor. O que nos resta é esperar que não queiramos o centro do pódio e, principalmente, que consigamos conviver de forma mais harmônica com a tal Mãe-Natureza. Afinal, essa é uma mãe que não dispensa chineladas na hora de educar seus filhos desobedientes.

Sobre grande pandemia, os livros de história dirão o quê?

Leremos – decerto – que o covid 19 pôs o mundo inteiro de joelhos. Leremos que houve um “dia” no qual a Terra parou, tal o famoso clássico de Raul Seixas. Leremos que milhares morreram sob o jugo do vírus e outros milhares faliram, sofreram e até morreram em virtude da salomônica crise econômica que se seguiu após a superação da doença. Leremos a palavra “colapso”.

O que nos resta nesse momento tão grave?

O ideal seria se conseguíssemos entender essa fase como um momento de profunda reflexão. Afinal, pensar não é dos hábitos mais revisitados na modernidade. Geralmente o ser humano vive à toque de caixa. Vive para o aqui e agora. Vive epidermicamente.

O sentimento de comunidade, de único povo, bem que poderia crescer nesse momento e se instalar de vez. Cuidar de sim e dos semelhantes, por exemplo, cairia muito bem. Assim, quem sabe, poderemos dar ouvidos à outra mãe, a Necessidade, e sermos muito (muito mesmo!) criativos.

Da mesma forma que fomos criativos para sobreviver nos momentos mais agudos e críticos da história da humanidade, como nas grandes guerras, também podemos (e devemos) ser criativos, proativos e propositivos nessa fase na qual estamos todos inseridos.

Eis um período no qual a palavra “crise” deve perder o “S” e aprender a se transformar  em “Crie”.