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A Ferrari e seu poderoso storytelling
21 de novembro, 2019 - por Max Franco
A Ferrari tornou-se o que se tornou por quais motivos?
É uma prova da excelência italiana em construir carros belos e velozes ou um case de marketing de sucesso?
Quando falamos da Marca Ferrari, do que estamos falando: da mecânica ou do glamour?
O que faz um sujeito desembolsar o valor de alguns apartamentos em áreas mais do que nobres em um carro? Carros, afinal, existem aos montes. Inclusive, com excelente desempenho e conforto inquestionável.
Por que só a Ferrari exerce um fascínio que se aproxima da veneração religiosa?
A resposta poderia ser dada pelo maestro Von Karajan quando disse a Enzo Ferrari “o som dos seus doze cilindros é como uma música perfeita”!
São esses e muitos outros detalhes que transformaram a Ferrari em algo mais do que apenas um carro. E isso tem a ver com elementos não mensuráveis e menos ainda replicáveis com facilidade. A Ferrari se alçou ao patamar de mito graças não só aos seus engenheiros mecânicos e designeis. A Ferrari virou mito por causa de estratégias certeiras de marketing, mas também em virtude do carisma do homem que empresta o nome a máquina: Enzo Ferrari!
São a essas as descobertas que fazemos quando visitamos as casas da Ferrari em Maranello e em Módena. Em uma, conhecemos a antiga casa de Enzo Ferrari, transformada no belo museu Enzo Ferrari, e na outra, conhecemos o próprio museu da marca que é símbolo de perfomance, beleza, poder e estética, o Museu da Ferrari.
Descobre-se algo muito simples: eles amam aquele carro.
E quem ama algo tende a contagiar os demais com o mesmo sentimento.
Esses sujeitos que, há décadas, trabalham com aquela máquina não a veem como um mero veículo. Isso seria quase uma blasfêmia de ser dita. Ferrari não é meio de transporte. A verdade é que a Ferrari não é meio, é fim. O que menos importa é o destino da viagem quando se está em uma Ferrari. A experiência é concluída por ela mesma. É a tal “economia da experiência” por excelência.
Como a “escuderia” conseguiu esse êxito?
O que faria algum milionário esperar anos em uma fila para receber a sua Ferrari?
O que faria algum sujeito pagar quase mil reais pelo prazer de guiar uma Ferrari por meros 15 minutos?
A resposta é simples, mas não passa pelo racional: o cidadão acha que faz sentido. A experiência justifica o (dispendioso) investimento.
E, nesse ponto, cada pessoa é um universo. Cada um valoriza o que valoriza. Essa é uma das façanhas da Ferrari, convencer que ela vale cada centavo do que se gasta para tê-la ligada ao seu corpo.
Talvez seja justamente por isso que, nos museus, tenhamos alçada metro um leão de chácara (ou leoa) com olhos sempre atentos para Inibir com com veemência qualquer desavisado que ouse tocar em um dos carros expostos. O engraçado é que, realmente, a máquina exerce sobre o público uma emoção parente da volúpia. É quase irresistível tocá-las.
Como se repete o mesmo processo com outras marcas?
Não se repete.
Muitas marcas até tentam. Associam-se com artistas da música e do cinema. São inseridas em filmes de sucesso, como o Indefectível Aston Martin usado pelo James Bond. São promovidas por campanhas de propagandas milionárias. Mas, depois de tudo isso, só a Ferrari é uma Ferrari.
Tem a ver com a história da Ferrari? Ocorre pela associação com as corridas de fórmula 1?
Sim, claro. Mas não só. A Ferrari não é a única marca promovida pelos prêmios de F1.
A questão é que a mística não nasce nas pranchetas dos designers nem pelas ferramentas dos mecânicos. Mística tem a ver com aura. Com mágica. Essa é diferença da Ferrari. Ela ganhou sacralidade. Ganhou elementos que não se tocam ou definem. E não tem só a ver com o que ela diz dela mesma (porém tem muito!), mas também com o que pensam e dizem dela. A Ferrari virou um grande receptáculo de atribuições. Como se chama isso? Como se chama a capacidade de se fazer amado?
Você adivinhou! Chama-se carisma.
É esse carisma foi criado, alimentado, potencializado e propagado por meio das mais diversas narrativas.
Por que a cor tradicional é a vermelha?
Por que o símbolo é um cavalo com as patas dianteiras no ar?
Por que o italiano nem liga tanto se o motorista é ou não italiano?
São muitos porquês e esses porquês geram a maior e mais eficiente fábrica de mitos que existiu e existe na humanidade: as histórias.
Afinal, são as histórias que emprestam sentido e significado às coisas.
Carros podem ser só carros.
Mas, só a Ferrari é Ferrari.
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