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A nova revolução

14 de maio, 2023 - por Max Franco

Há cronistas e analistas da contemporaneidade que afirmam que estamos vivendo uma grande mudança de fase da História, tal qual foram as revoluções agrícola e industrial séculos atrás. Para eles, no futuro, novas gerações estarão se referindo a este momento no qual estamos inseridos como um divisor de águas e, talvez, a verdadeira fronteira entre o século XX e o XXI.

Para nos ajudar a entender as diversas fases da História da Humanidade, os livros de História costumam organizar a cronologia  tendo como referências acontecimentos emblemáticos que acabam determinando o início e o fim de cada era. Não devemos ter uma visão engessada acerca dos períodos históricos e dos marcos que estipulam a passagem de um período para o outro, mas é interessante que saibamos entender que existem fatos de relevância tão poderosa que, realmente, têm a capacidade de impulsionar transformações sociais e culturais. E por que não dizer “mudar a história”?

Da mesma forma que o limite entre pré-história e História é a invenção da Escrita, mais ou menos, 4 mil antes Cristo; que a idade antiga vai até a queda de Roma em 476 D.C; que a idade média acaba com a invasão dos turcos-otomanos à Constantinopla em 1453; que a revolução Francesa precipita o fim da Era Moderna em 1789; que a Idade contemporânea aí começa e chega até os dias atuais, é possível que estejamos vivendo justamente o término desta fase e o amanhecer de outra. Afinal, momentos icônicos não nos faltam, como o atentado ao World Trade Center, em Nova Iorque, e a pandemia de Coronavírus. Ambos são marcas de um mundo globalizado e interligado. Um mundo de intensas transformações tecnológicas e de padrões de comportamentos. Há a possibilidade de sermos apenas muito pretensiosos ao considerarmos este momento decisório e relevante em detrimento de outros aos quais reputamos menor importância. Mas não seremos nós que iremos escrever os livros de História em 2123 para atestarmos 100% tal robustez. Poderíamos, portanto, ter certeza de que estamos fazendo parte de um momento histórico? O futuro falará de nós? E, principalmente, falará de que forma? O mais engraçado deste questionamento é que – de fato – nunca saberemos. Afinal, o futuro chegará, porém nós, decerto, não.

Há um fato, contudo, que não podemos desprezar: mudanças sensíveis e profundas estão ocorrendo na sociedade. O advento da pandemia, por exemplo, precipitou e adiantou diversas transformações comportamentais, culturais, sociais e tecnológicas que só se dariam em anos ou em décadas. Entretanto, muita coisa que se dizia no ínterim da pandemia não se comprovou. A humanidade não se tornou mais sensível, solidária e minimalista – como alguns esperavam. O que se verificou foi que as pessoas generosas foram mais generosas do que antes, enquanto gente mesquinha, tacanha e bizarra foi ainda mais mesquinha, tacanha e bizarra do que nunca. Em outras palavras, houve mais do mesmo e nenhuma grande transformação social.

Então, já que não foi a pandemia que nos empurrou para uma nova era, o que o fará?!

Tudo indica que será a tal Inteligência Artificial a nova revolução que servirá como mais um divisor de águas na história da humanidade.

As IA’s mostraram a sua cara com mais força do que já tinham feito empurrando todo tipo de sentimento aos humanos de plantão. Não faltam personalidades contrárias, céticas e críticas às inserções das IA’s no nosso cotidiano. Posso citar alguns que merecem ser escutados:

  1. Stephen Hawking – O renomado físico teórico britânico expressou preocupação sobre as IAs em várias ocasiões, alertando que elas podem se tornar uma ameaça à humanidade.
  2. Elon Musk – O CEO da Tesla e SpaceX tem sido um crítico vocal das IAs, alertando que elas podem se tornar uma ameaça existencial para a humanidade se não forem regulamentadas de maneira adequada.
  3. Stuart Russell – Professor de Ciência da Computação da Universidade da Califórnia em Berkeley, é conhecido por seu trabalho em sistemas inteligentes e preocupações com o futuro das IAs.
  4. Nick Bostrom – Professor de Filosofia na Universidade de Oxford e autor do livro “Superintelligence: Paths, Dangers, Strategies”, que explora os desafios éticos e existenciais da criação de IAs superinteligentes.
  5. Noam Chomsky – Linguista e filósofo americano, criticou a falta de compreensão sobre a natureza da mente e a capacidade de criar uma inteligência artificial verdadeiramente inteligente.
  6. Wendell Wallach – É um especialista em ética da tecnologia e autor de “A Dangerous Master: How to Keep Technology from Slipping Beyond Our Control”, que aborda as preocupações com as IAs e outras tecnologias emergentes.
  7. Bill Gates – O fundador da Microsoft já se mostrou preocupado com o potencial das IAs para superar a capacidade humana e causar desemprego em massa.E além desses:  Joseph Weizenbaum – O cientista da computação alemão; Jaron Lanier – Um dos pioneiros da realidade virtual e autor de “Ten Arguments for Deleting Your Social Media Accounts Right Now”; Stuart J. Russell – Professor de Ciência da Computação na Universidade da Califórnia em Berkeley, escreveu o livro “Human Compatible: Artificial Intelligence and the Problem of Control”; Max Tegmark – Físico teórico do MIT e autor de “Life 3.0: Being Human in the Age of Artificial Intelligence”e o festejado historiador Yuval Noah Harari.Esses são apenas alguns exemplos de cientistas e especialistas que levantam preocupações sobre as IAs e seus possíveis impactos na sociedade e na humanidade.
 Mas precisamos aqui fazer um recorte para não cairmos em digressões gratuitas:  o que essas transformações têm a ver com a Educação?

A resposta é simples, mas as medidas para resolver essa complexa equação não tanto.

O fato é que não dá para se educar da mesma forma que se fazia na etapa anterior. As mudanças são muito profundas para que usemos as mesmas estratégias e tenhamos os mesmos objetivos. Mas o problema é que temos instituições e profissionais com práticas e mentalidades antigas, quando nossos jovens alunos são nativos deste tempo. Estamos preparados para educar nesta nova fase?

A verdade é que mal estávamos preparados para educar antes da pandemia e da colonização das IA’s, imagina agora. Outra verdade é que ninguém – em canto algum  nem em área alguma – está preparado para uma mudança de tal espectro. Alguns, porém, se adaptarão mais rapidamente. Entretanto, infelizmente, não parece que tenha sido o caso da Educação, afinal, muitas instituições, ainda não apresentam estratégias que demonstrem resultados aceitáveis quando se fala de desempenho pedagógico. O motivo disto é simples: faltam políticas educacionais de Estado, formação, tanto para os educadores quanto para os gestores educacionais e a democratização das tecnologias. 

Se não houver políticas que forneçam estratégias, treinamentos e tecnologias, a luta será inglória e a derrota, inadiável.

A questão é que a História segue o seu rumo, muita vez errático e imprevisível, mas há muita gente que se nega entrar no seu bonde.