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Das histórias contadas para autopromoção (Ou o selfie-storytelling)
12 de julho, 2019 - por Max Franco
Era mais um daqueles almoços comuns numa tarde mais comum ainda de terça-feira.
Estava naquele restaurante self-service concluindo a minha refeição, quando o vi chegar. Suava em bicas e, estranhamente, mancava a perna esquerda. Ele se aproximou com um sorriso desconcertado e falou ao garçon:
– Eu devo fazer uma entrevista de emprego aqui na frente, mas o meu sapato rasgou. Eu não posso ir desse jeito. Vocês não teriam um par de sapatos por aí?
Eu não tive como evitar a avaliação que fiz ao rapaz. O sapato estava mesmo rasgado, mas as demais roupas não se encontravam em condições tão melhores.
– Na minha última entrevista, a mulher marcou a hora, me atendeu duas horas depois, fez duas perguntas, sorriu, me dispensou e virou as costas. Dessa vez, vai ser ainda pior. – Queixou-se o homem com os olhos marejados.
O garçon pareceu demonstrar preocupação e pediu um minuto para que ele pudesse verificar. Instantes depois, porém, volta meneando cabeça negativamente. Antes de sair, ele volta para mim um olhar pedinte e ganha a rua com seu passo quebrado.
A vida não é só feita das decisões que tomamos. Há muita coisa que não somos nós que definimos, mas as próprias decisões são determinantes importantes para o que nos ocorre.
Decidi, então, tomar uma iniciativa. Colocar o homem no meu carro, comprar para ele sapatos e uma roupa decente. Deixá-lo na porta da tal empresa e lhe desejar sucesso. Uma decisão nossa pode mesmo mudar a vida de alguém e não custa tanto ser generoso com quem precisa.
Foi o que decidi.
Mas não fiz nada. Fiquei na mesa cutucando a tela do celular. Não saí da minha zona de conforto. Não fui herói nem generoso. Fui omisso por mera preguiça.
Dante dizia que o círculo mais sombrio do inferno era reservado aos que ficaram omissos em tempo de crise. Eu não sei se o inferno existe, mas se existe, concordo com Dante. A omissão é um pecado inominável.
A imagem daquele homem humilhado me vem à mente muitas vezes e me impulsiona a não mais me isentar de agir quando a ação é tão necessária.
A pior história é sempre a não-história!
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