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De volta às aulas
06 de agosto, 2021 - por Max Franco
Em todo o Brasil, as férias de meio do ano acabaram e, enfim, as aulas retornam caminhando para algo que se avizinha ao termo “normalidade”, se é que podemos chamar de normalidade conviver diariamente com os riscos gerados por um risco mortal.
Além dos protocolos sanitários com os quais já nos acostumamos, faz falta uma pauta comum em todo o país que unifique as práticas quando se fala das instituições educacionais. O que se sabe é que o ensino híbrido deixou de ser apenas uma opção e virou prerrogativa para quem deseja dar sequência às próprias atividades pedagógicas. Desta maneira, os modelos são plurais, mas o consenso é a convivência entre as aulas online e presenciais. Não há o que se questionar sobre o aumento do repertório das escolas quando o assunto é tecnologia, porém não conseguimos demonstrar a mesma convicção quando tratamos do uso de novas metodologias.
A verdade é que ninguém está muito convicto quando o tema é aprendizagem. De tal forma que nenhuma pergunta é atualmente tão incômoda quanto “O que se aprendeu durante esse longo período?”
Além desta questão, o aspecto socioemocional precisa entrar no debate. Tão importante quanto o desempenho acadêmico, é que neste momento os sentimentos precisam ser acolhidos, e a maneira como isso se dará é fundamental para os próximos passos. Afinal, as nossas crianças passaram por experiências de luto, isolamento social, medo e muita, muita mesmo, ansiedade.
O problema é que, hoje, muitos adolescentes ficam extremamente ansiosos com a ideia de voltarem às aulas presenciais por medo de se contaminarem ou, até, porque se habituaram ao modelo online, não presencial. É o que se chama de Síndrome da Gaiola, termo cunhado pelo psiquiatra da infância e adolescência da Associação Brasileira de Psiquiatria, Gabriel Lopes, e, em alusão aos pássaros que não deixam o cativeiro mesmo com a gaiola aberta. A educação foi uma das mais áreas nas quais a síndrome da gaiola é mais presente e, nesse contexto, transtornos mentais podem ser desenvolvidos ou agravados mesmo em alunos que apresentam bons desempenhos escolares.
Além disso, as mudanças de rotina que ocorreram, em suas vidas e na vida dos pais, estão mais uma vez sofrendo alterações. Da mesma forma que foi complicado manter, abruptamente, todos em casa, também é difícil mudar a rotina novamente e sair da segurança que o lar representa. Este processo de readaptação à escola e de afastamento dos pais terá que ser feito novamente.
A melhor forma de acolher os estudantes é proporcionar oportunidades para que lidem com as próprias emoções, por meio de momentos de escuta individual e coletiva, rodas de conversas e dinâmicas. A escola não deve minimizar os sentimentos dos alunos, mas promover uma sensação perene de segurança e confiança. O desafio é o de tentar equilibrar o acadêmico ao socioemocional.
Neste momento, os pais devem ser os maiores aliados da escola. O que vai demandar da escola manter os canais de conversação sempre abertos. Neste caso, o diálogo nunca será demasiado.
O professor, por sua vez, é uma figura primordial neste processo e deve permanecer atento ao comportamento de seus alunos, bem como ao desempenho escolar, e se observar que é necessário, sugerir à família o encaminhamento aos profissionais que podem ajudá-los.
Este é um momento de iniciar a recuperação. Mas recuperar o quê? O emocional e o acadêmico.
Para isso, é fundamental que a escola, mais uma vez, se adeque às novas demandas. Antes, ninguém estava preparado para a pandemia. Da mesma forma, estamos tampouco preparados para o pós-pandemia. Adequar significa ter foco na aprendizagem e no desenvolvimento das habilidades socioemocionais previstas pela BNCC, mas sem perder de vista os conteúdos, rever os objetivos, como também criar estratégias de recuperação da aprendizagem, ofertando recursos e meios tecnológicos para a complementação dos estudos.
Mais uma vez, então, precisaremos aprender a ensinar e a aprender.
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