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Educação XXI: ambiente de cocriação
05 de dezembro, 2020 - por Max Franco
O pensador e historiador Yuval Harari, podemos fazer todo um esforço para formar as novas gerações em algumas habilidades as quais, num futuro bem próximo, potencialmente devem ser substituídas por um novo software e por um aplicativo de celular. É por isso que Harari, Freire e Ausubel, além de outros educadores de renome, atestam que a pauta mais necessária para a Educação atual é a flexibilidade, ou a eficaz prática de “aprender a aprender”. Essa capacidade tem sido batizada com o binômio flexibilidade cognitiva.
Para tal, faz-se necessário uma atuação inovadora e sistemática dos novos gestores de Educação. Uma gestão que incentive a gestação de um ecossistema de engajamento e inovação dentro do útero das instituições de ensino.
Infelizmente, há obstáculos e não são pequenos quando falamos do desenvolvimento deste ambiente renovado e criativo dentro de qualquer casa de Educação, seja no Brasil, seja em qualquer país. A verdade é que existem, sim, sistemas educacionais em algumas regiões do mundo que se destacam pelas respectivas propostas inovadoras nas áreas pedagógicas. A Escola da Serra, em Minas Gerais; o Colégio Nova Dimensão, em Fortaleza; a Escola da Ponte, em Portugal; a região do Reggio Emilia, na Itália; as escolas do Ontário, no Canadá; os sistemas finlandês e estoniano; além de inúmeras experiências exitosas espalhadas em diversas áreas do planeta demonstram que a estrada rumo a uma nova Educação já vem sendo trilhada por diversos ensinantes e aprendentes.
Pouca coisa pode ser tão melancólica do que a atitude de um educador que se considera completo, absoluto, sem nada mais a aprender. Somos profissionais do Conhecimento. E Conhecimento é feito de uma matéria de natureza infinita. Há sempre, portanto, tanto a se aprender. Precisamos – todos os dias – nos reapaixonar pelo ato de aprender sob o risco de perder o apreço pelo ato de ensinar.
Ensinar e aprender, afinal, é coisa humana há centenas de milhares de anos. A humanidade só evoluiu porque foi capaz de aprender com outros da sua espécie. Ensinar e aprender, então, sempre foi uma ação capaz de mudar o mundo.
Nesse novo caminho, precisamos encarar essa estrada, nós, ensinantes e aprendentes, todos, com igual disposição. Precisamos aprender a aprender, aprender a ensinar, ensinar a aprender e a ensinar a ensinar. Ensinaremos e aprenderemos de maneira muito menos monolíticas. Os papéis de cada um, professores, estudantes, famílias e demais profissionais de Educação, serão mais fluidos, dialéticos, colaborativos, curiosos e solidários.
Isso mesmo: solidário.
Não foi incomum no período de pandemia o ato, repleto de respeito e empatia, de professores menos versados em tecnologia terem recebido ajuda dos próprios alunos. Este é modelo a ser seguido. A maior conquista das gerações atuais no que se refere ao processo de ensino-aprendizagem é que este seja adotado como um projeto coletivo e participativo.
É natural que alguns educadores possam se sentir inseguros e com medo de perder autoridade em virtude desse novo comportamento. O(a) professor(a), portanto, deve entender que ele(a) jamais deve aceitar qualquer milímetro de corrosão da sua imagem diante da sua sala de aula. A sua função de senhoridade, curadoria, liderança e experiência nunca deve ser questionada, mas, ao contrário, todos os atores envolvidos nessa peça precisam apoiar e sustentar continuamente a condução de quem é, naturalmente, o guia desta viagem de descobrimentos.
A questão é que os fundamentos que engendram essa autoridade não são mais os mesmos de outrora. Não é apenas por conhecimento técnico ou, pior, pela mera coerção sustentada por séculos de tradição. Esta ascendência é alimentada pela compreensão mútua de que a aprendizagem deva ser uma construção coletiva, simbiótica, sinérgica, sistêmica e perene.
Aprender deve se tornar – cada vez mais – mutirão.
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