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Nexus tem algum nexo?
02 de fevereiro, 2025 - por Max Franco
Li os demais livros do celebrado historiador israelense, Yuval Noah Harari (Sapiens, Homo Deus, 21 lições para o século 21) e estava ansioso para ler a sua última obra: “Nexus”, na qual explora a interseção entre tecnologia, biologia e sociedade, abordando as implicações das inovações no futuro da humanidade. Portanto, sabia já que o autor não é lá muito famoso pelo seu otimismo exacerbado, mas em “Nexus” Harari se supera em falta de positividade, principalmente quando se trata da utilização das I.A’s pela sociedade, ou justamente pelo contrário. Entretanto, a questão aqui não reside no fato de o afamado intelectual ser ou não pessimista, mas se faz ou não algum nexo aquilo que ele defende.
Na introdução do livro, o historiador revisita o seu Sapiens, realizando uma verdadeira ode ao storytelling, porque, mais uma vez, tenta argumentar que o recurso que possibilita a construção das sociedades humana é a capacidade de criar e fomentar ficções. E tudo isso tem a ver com o que definimos como “conhecimento subjetivo”. Em suma, Yuval define três tipos de conhecimento: objetivo, subjetivo e intersubjetivo. O conhecimento objetivo refere-se a informações verificáveis e comprováveis, como dados científicos. O conhecimento subjetivo é moldado pelas experiências e opiniões pessoais, refletindo emoções e crenças individuais. Já o conhecimento intersubjetivo é aquele compartilhado entre grupos, baseado em consensos coletivos que, embora não verificáveis, são aceitos como verdadeiros por um determinado grupo. Harari enfatiza que o conhecimento intersubjetivo é essencial para a formação de sociedades e instituições, e sugere que ele pode ter um impacto mais significativo sobre o comportamento humano do que o conhecimento objetivo, especialmente na era digital, na qual narrativas compartilhadas moldam a realidade social.
Eis a um dos maiores dilemas da inserção das I.A’s na sociedade: pela primeira vez teremos que lidar com narrativas criadas e amplamente disseminadas por inteligências artificiais, ou como Harari define: inteligências alienígenas.
Um dos pontos centrais da obra é a ideia de que a tecnologia está se tornando uma extensão de nós mesmos. Harari argumenta que a integração de dispositivos tecnológicos com o corpo humano pode levar a uma nova forma de ser humano, que terá as suas capacidades físicas e mentais aprimoradas. Esse cenário levanta questões éticas e filosóficas sobre o que significa ser humano e quais são os limites aceitáveis para a modificação do corpo e da mente. A busca pela superação das limitações biológicas é um tema recorrente na narrativa.
O autor também discute o impacto da inteligência artificial e da biotecnologia na sociedade. Ele apresenta cenários em que essas tecnologias podem tanto resolver problemas globais, como a fome e doenças, quanto potencializar desigualdades sociais existentes. Harari alerta para o risco de um futuro em que uma pequena elite controla essas inovações, enquanto a maioria da população fica à margem. A necessidade de um debate ético e regulatório em torno dessas tecnologias é enfatizada como crucial para garantir um futuro mais equitativo.
E o que tudo isso tem a ver com a Educação? Harari examina o papel da educação em um mundo em rápida mudança, propondo que as instituições educacionais precisam se adaptar para preparar os indivíduos para um mercado de trabalho em constante evolução. Em contrapartida, afirma que habilidades como pensamento crítico, criatividade e empatia se tornarão cada vez mais essenciais. A Educação deve, portanto, não apenas transmitir conhecimento, mas também cultivar as competências necessárias para prosperar em um ambiente tecnológico complexo.
Por fim, “Nexus” convida os leitores a refletirem sobre o futuro da humanidade à medida que a tecnologia avança. Vale a pena seguirmos – tão velozmente – a caminho desse lugar no qual as I.A’s são tão poderosas? Harari instiga uma reflexão profunda sobre a responsabilidade coletiva em moldar esse futuro, ressaltando que as decisões que tomamos hoje terão um impacto duradouro.
O livro não oferece respostas, mas provoca um debate sobre as direções que podemos tomar, ao mesmo tempo que nos convida à ação para que todos participemos da construção de um futuro que respeite a dignidade humana e promova o bem-estar coletivo.
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