https://www.maxfranco.com.br/artigos/o-novo-ensino-medio-que-envelheceu/

O Novo Ensino Médio que caducou cedo demais

24 de abril, 2023 - por Max Franco

O ensino médio brasileiro passou por mudanças significativas nos últimos anos, com a implementação da nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC) em 2018. Essas mudanças trouxeram tanto méritos quanto deméritos para o sistema educacional do país, entretanto temos as condições e oportunidades para, nos próximos meses, manter suas virtudes e modificar seus vícios.

Um dos méritos do novo ensino médio é a flexibilização curricular. Agora, os alunos podem escolher disciplinas eletivas que estejam de acordo com seus interesses e aptidões, permitindo que desenvolvam habilidades específicas e estejam mais preparados para o mercado de trabalho. Além disso, o novo ensino médio tem uma abordagem mais interdisciplinar, o que permite que os alunos entendam melhor a relação entre as diferentes áreas do conhecimento.

Outro ponto positivo do novo ensino médio é a inserção de temas contemporâneos na grade curricular. Agora, os alunos têm a oportunidade de discutir e refletir sobre temas como diversidade, sustentabilidade, direitos humanos, projeto de vida e empreendedorismo, temática que contribuem para a formação de cidadãos mais críticos e inseridos na sociedade. Além disso, a nova abordagem permite que os estudantes sejam mais participativos na construção do seu próprio conhecimento, o que estimula a criatividade e a inovação.

No entanto, a implementação do novo ensino médio ainda enfrenta alguns desafios, principalmente no que diz respeito à infraestrutura e formação dos professores. Muitas escolas ainda não têm recursos suficientes para oferecer muitas disciplinas eletivas, o que limita as escolhas dos alunos. Além disso, muitos professores ainda não receberam treinamento adequado para lidar com as mudanças curriculares e com a nova metodologia de ensino, o que pode prejudicar a qualidade do ensino oferecido.

Outros pontos negativos a serem considerados no novo ensino médio têm a ver com a desigualdade social e econômica no país, o que dificulta o acesso dos alunos a uma educação de qualidade. A forma com a qual as escolas particulares estão implementando o Novo Ensino Médio é muito diferente do que ocorre na Escola Pública. As particulares oferecem algumas disciplinas eletivas, porém não excluíram aulas da sua grade curricular,  disponibilizando aulas a mais. Não é o que acontece nas publicas. Desta forma, vemos turmas tendo apenas uma aula de física ou biologia por semana. Também podemos observar professor especializados, pós-graduados, alguns com mestrado e doutorado tendo que ministrar aulas de “pão de queijo” e não das suas especialidades. Esse processo – decerto – vai compromenter mais ainda a já deficitária formação de muitos alunos da Escola Pública.

Desde já sabemos um dos vícios do NEM: é a quantidade de horas destinadas ao “currículo” optativo. São 1200 horas. Sendo que o currículo comum tem 1800. Em suma, é tempo demasiado! Precisamos diminuir esse tempo para, no máximo, 600 horas. Afinal, não há problema de que haja alternativas para esses jovens, desde que a formação básica seja garantida.

Muitas escolas públicas, por sua vez, optaram por atividades profissionalizantes e isso também é polêmico. A vantagem é que diversos alunos poderão sair da escola com algum ofício, porém precisamos nos lembrar de que muitos desejam entrar na universidade pública, a qual tem cursos deveras concorridos. O questionamento a partir dessa realidade é óbvio: como equilibrar essa balança? Como oferecer condições iguais para todos?

Com todas essas questões, o Novo Ensino Médio parece já ter nascido caduco, porque ele não só não resolve os velhos problemas da Educação nacional, mas também piora o que já não andava bem. O NEM, na verdade, cava o abismo que já era profundo. Isso foi planejado? Foi estratégia ou obra do acidente de percurso? A verdade é que não sabemos. Mas se não foi um projeto de sabotagem das camadas mais necessitadas da nossas sociedade, parece ter sido.

Esperamos que o novo governo atente para todas essas dificuldades e aja com celeridade para propor mudanças ou até revogue o Novo Ensino Médio. É necessário e urgente que haja investimentos na infraestrutura escolar, formação de professores e políticas públicas que garantam o acesso universal à educação. Somente assim será possível alcançar uma educação de qualidade para todos os jovens brasileiros.