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Os caçadores de cabeças ou a tal da Economia da Atenção

07 de setembro, 2024 - por Max Franco

Cuidado: a sua cabeça está a prêmio e essa nem é a pior notícia.

O problema, a pior notícia, é que há milhares, talvez até milhões, de caçadores de recompensas que estão nessa perseguição irrefreável a fim de capturá-lo. Mas, veja só, estes sujeitos que estão no seu encalço – isto é, no nosso, porque eu também não estou a salvo – só querem mesmo a nossa cabeça. Para ser ainda mais específico, eles querem os nossos pensamentos. Sim, é mesmo uma espécie de lobotomia não-invasiva. Ao menos, não-invasiva por bisturi.

Você já ouviu falar da tal “economia da atenção”?

Pois, caso não, é desse fenômeno que quero tratar nesse texto.

A Economia da atenção é tipo um grande mercado onde todo mundo quer um pedacinho da nossa cabeça. E por que a nossa cabeça? Simples: não dá para nos vender algo ou nos convencer de algo sem o mínimo da nossa atenção. Afinal, estamos, quase sempre, distraídos ou focados nos assuntos importantes que nos atraem a atenção. Eu, por exemplo, costumeiramente estou pensando no próximo jogo do Vasco, ou no último… Imagine, então, que a nossa atenção é como um bolo delicioso, e as empresas, marcas e influenciadores são como um bando de gente faminta ao redor da mesa, disputando cada fatia. Elas fazem de tudo para chamar a nossa atenção, desde anúncios brilhantes, notificações incessantes, vídeos curtos e impactantes até memes engraçados que a gente compartilha sem nem perceber. É como se a gente estivesse num buffet infinito, mas com olhos maiores que a barriga, e cada vez que morde uma isca, está doando um pouco mais do seu tempo.

Essa briga por atenção está em todos os lugares: nas redes sociais, nos apps, nos jogos, e até naqueles emails que juramos que vamos abrir “depois”. E qual é o truque? Elas entendem que nossa atenção é limitada e preciosa. Então, criam gatilhos para nos fisgar: cores vibrantes, sons, alertas de notificação, e aquele “puxe para atualizar” que é quase como uma máquina caça-níquel — puxa uma vez, quem sabe o que você vai encontrar, não é?

É meio como um jogo de gato e rato. A gente acha que está no controle, escolhendo o que quer ver, mas muitas vezes é o contrário. As empresas entendem tão bem como nosso cérebro funciona que conseguem prever o que vai nos prender por mais tempo. Exemplo disso é o algoritmo do YouTube que sugere aquele próximo vídeo que a gente “precisa” ver, ou o Instagram que sempre traz algo novo no feed para que nunca queiramos sair.

E o que ganham com isso? Nosso tempo é convertido em dinheiro, porque mais tempo online significa mais anúncios vistos, mais produtos vendidos e mais dados coletados. Em outras palavras, na economia da atenção, nós somos tanto o consumidor quanto o produto. Então, enquanto navegamos, estamos, na verdade, sendo “vendidos” aos anunciantes.

Vale destacar que a matéria-prima dessas iscas que nos atraem para estes milhares de anzóis sempre em riste para sequestrar a nossa atenção é o storytelling. O fato é que nada atrai tanto a atenção quanto histórias. Somos, na verdade, viciados em histórias que trazem questões escabrosas e surpreendentes, como também conflitos, polêmicas e relatos cômicos, principalmente quando versam sobre os nossos interesses e as nossas postulações e crenças. Por isso, a política está entrando de corpo e alma nessa praia.

É como se estivéssemos numa festa interminável, com cada um dos convidados puxando a nossa manga e dizendo: “Ei, olha pra mim!”. E no final das contas, a nossa atenção é como dinheiro. Cada clique é uma moeda, cada segundo é uma nota, e o banco nunca para de operar. Então, da próxima vez que abrir aquele app só para “dar uma olhadinha”, lembre-se: você não está apenas gastando seu tempo, está investindo sua atenção nesse grande mercado no qual você, isto é, nós somos o produto.