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Política se alimenta de Storytelling

25 de agosto, 2024 - por Max Franco

Kamala, Trump, Tábata, Boulos, Nunes, Pablo… Qual a semelhança entre as estratégias de campanha dos candidaturas eleitorais mais celebradas no momento? Simples: todas estão contando histórias. E serão as histórias que mais engajarem a massa que irão vencer.

Na verdade, não há grande diferença de outros pleitos eleitorais em todos os recantos nos quais a democracia é adotada como meio de se determinar governantes. Entretanto, há elementos nas eleições modernas  que estão ainda mais potencializados. O fator principal que define nas atualidades a relevância em uma disputa eleitoral chama-se entretenimento. Sim, isso mesmo: o candidato que melhor entreter seu público acaba escalando a sua capacidade de conquistar mais e emais votos.

É claro que não estamos falando apenas de diversão. Precisamos ainda de outros temperos, como alguma ideologia, habilidade de oratória, compreensão e manuseio das redes sociais e patrocínios, isto é: grana. Dinheiro sempre faz muita diferença. Não obstante, no contexto atual, pouca coisa exerce tal fascínio e atração do que entreter o seu eleitorado, principalmente com histórias escandalosas ou mesmo escabrosas. Não importa se são verdadeiras ou não.  A verdade é quase um acessório dispensável. O que importa é que essas narrativas despertem o interesse, gerem conflitos e, muitas vezes, paixões. Candidatos, nos idos dos 2020, precisam ser apaixonantes. Mas quais paixões? Amor e devoção ou ódio e repulsa. Não interessa. Interessa apenas que jamais tédio. E nada como propostas e promessas para empurrar tédio, não é? Sabe por qual motivo? Sim, você sabe. Todo mundo se cansou de propostas e promessas, principalmente porque elas têm o péssimo hábito de estacionarem apenas nas palavras, enquanto a treta não, a treta ao menos diverte. O circo, por mais mambembe que seja, sempre gera entretenimento.

Onde quer que existam eleições hoje no mundo, o uso do storytelling está em voga. Porém, podemos pegar o exemplo de São Paulo, capital, para entendermos como essa poderosa ferramenta está sendo manuseada. São Paulo é uma cidade superlativa. É muita gente no mesmo lugar, o que gera sempre uma abissal quantidade de problemas. Ao mesmo tempo, temos o maior orçamento do país na mesma conta bancária, o que causa também arrepios de ambição em muita gente. Fora isso, é o palco mais ilumnado do país. Quem estiver no pódio em São Paulo sempre atrai diversos olhares.  E – claro – se souber contar bem também essa história, pode alçar voos ainda maiores, quem sabe para certo palácio em Brasília.

Por tudo isso, tantos querem São Paulo. E é contando histórias que tentam se sentar nesse trono. A estratégia para engajar eleitores é simples, pois envolve a criação e compartilhamento de narrativas que ressoam emocionalmente com o público. Essa técnica permite que os candidatos construam uma imagem autêntica e próxima dos eleitores, conectando suas histórias pessoais, valores e propostas com as experiências e aspirações dos cidadãos.

E como o storytelling está sendo utilizado? Vamos conferir:

  1. Narrativas Pessoais: Os candidatos compartilham histórias pessoais que refletem suas origens, desafios superados e motivações para entrar na política. Isso ajuda a humanizar os personagens e a criar uma conexão emocional com os eleitores. Observamos, por exemplo, como diversos candidatos relatam suas experiênciasde infância em bairros carentes e o que os inspirou a lutar por políticas públicas mais inclusivas;
  2. Histórias de Impacto Comunitário: Campanhas podem destacar histórias de eleitores ou comunidades que foram positivamente impactadas por políticas semelhantes às que o candidato defende. Isso mostra de forma concreta como as propostas do candidato podem fazer a diferença na vida das pessoas;
  3. Narrativas de Futuro: Outra estratégia é criar histórias que projetam uma visão otimista e inspiradora para o futuro da cidade, caso o candidato seja eleito. Essas histórias ajudam os eleitores a visualizar um cenário melhorado e se engajar com a ideia de mudança;
  4. Uso de Mídias Sociais: O storytelling também é amplamente usado nas redes sociais para criar campanhas multimídia que combinam texto, vídeo e imagem. Histórias curtas e envolventes são compartilhadas para alcançar e mobilizar diferentes segmentos da população, especialmente os mais jovens;
  5. Testemunhos: Relatos de eleitores que já se beneficiaram de ações passadas do candidato ou que acreditam fortemente em suas propostas também são usados para validar a mensagem da campanha, tornando-a mais crível e autêntica.

Entretanto, nenhuma dessas estratégias tem o poder de atração e envolvimento quanto a próxima:

6. Destruição da imagem do oponente: Os candidatos compartilham histórias depreciativas e escandalosas dos seus adversários. O curioso aqui é que essas narrativas nem sequer precisam ser baseadas em fatos.

Essas narrativas são projetadas e hiperpotencializadas para influenciar o comportamento eleitoral, criando indisposição contra o candidato rival, ao mesmo tempo em que geram identificação do público com quem está contando a história. Quem pauta as discussões, geralmente é quem está dominando o território. É a máxima “falem mal, mas falem de mim” usada sem quaisquer escrúpulos. Maquiavel, se estivesse vivo, se assustaria.