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Resiliente

12 de janeiro, 2023 - por Max Franco

Resiliência é uma das palavras que entrou no vernáculo cotidiano da Língua Portuguesa depois de 2010 e não mais saiu de moda.
Por sinal, desde 2015, é a palavra, em Língua Portuguesa, mais pesquisada nos dicionários online.

Pouca gente, porém, deve ter se perguntado por qual motivo, mas muitos, ao se perguntarem, saberão.

Para o Priberam, resiliência significa:
1. [Física] Propriedade de um corpo de recuperar a sua forma original após sofrer choque ou deformação.
2. [Figurado] Capacidade de superar, de recuperar de adversidades.

A verdade é que brasileiro sempre precisou de ser resiliente, mas, ultimamente, mais ainda e de tal forma que deveria já ter sido adicionado ao nosso RG, ao nosso nome: Me chamo João Ferreira Resiliente da Silva.

Mesmo que não concordando tanto com o sentido subjetivo da palavra “resiliência”, porque acredito que exista uma lacuna, um descompasso, entre o sentido literal e o metafórico.
Vou tentar provar o meu ponto de vista usando a etimologia da palavra.
Em Latim, ela é RESILIENS, particípio passado de RESILIRE, “ricochetear, pular de volta”, de RE- “para trás”, SALIRE – “saltar”.
Em síntese, ser resiliente é ter a capacidade de voltar à condição anterior ao evento que lhe impôs tensão.
Não obstante, não sei se há grande vantagem “voltar à condição inicial”. Me parece desperdício de pancada se retornarmos ao estado precedente. A adversidade bem aproveitada deveria ser capaz de lhe modificar e, preferivelmente, para melhor. Por isso, sempre considerei que a palavra a ser empregada com maior valor agregado é “resistência” e não “resiliência”.
Na minha vida, ainda mais ultimamente, a palavra resiliência me chega, aos ouvidos ou à mente, todos os dias. “Seja resiliente” é uma espécie de mantra, de recomendação instantânea sempre a tiracolo para ser usada nos momentos dos sinistros. E é sinistro como sinistros costumam aparecer.
No entanto, confesso, prefiro ser resistente do que ser apenas resiliente. Não desejo voltar à condição anterior. Não há risco de se manter incólume depois de tantas marretadas aplicadas pela vida. Nem vejo como vantajoso “ricochetear” e retornar da mesma forma. O melhor é mudar e mudar para algo melhor!
Quando você é resistente, apesar das marcas e das cicatrizes, você ainda está ali, de pé, mantendo a sua posição. Isso machuca, deforma, transforma. Não vejo uma proposta de transformação na palavra resiliência, mas de continuidade. Coisa que é equivocada, porque a chance de você cair lá na frente, cedo ou tarde, no mesmo bueiro é muito grande. Afinal, você voltou a ser mesmo.
Eu sei, porque cometi acertos e acertei enganos no meu curriculum vitae. E não há causas sem consequências. Sempre vai vir uma conta de se estar vivo. A vida, muita vez, só lhe oferece um prazo, mas a nota promissória sempre chega. Essa é a Vida e a Vida lhe traz sempre contas a pagar. Há sempre consequências de se estar vivo e elas chegam com a insistência de telemarketing, sempre exigindo a sua atenção.
A gente tem que aprender a lidar com a mágoa que macula, que inocula medo e angústia, pagar as horas de sono, superar a vontade quase irresistível de desistir, e aprender com ela. Porque a vitória nem sempre ensina tanto quanto o fracasso. Porque o melhor mestre é sempre a cara ensaguentada na lona.
Do que serviria tanta agonia nessa vida para retornarmos ao mesmo ponto, sem aprendizado e crescimento?
Por isso, resistência é a palavra ideal, porque voltar ao estado inicial  é pouco.
Toda metamorfose pede lágrima e superação. E a única vantagem do sofrimento não pode ser extraviada, é a renovação.