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Seu filho aprendeu o quê?

14 de junho, 2021 - por Max Franco

Então…

São quase 16 meses nos quais as escolas vivem o vai-e-vem da pandemia. Nos dias atuais, as escolas particulares oscilam entre as aulas presenciais e as aulas online. Já, as escolas públicas vivem realidades diferentes. Muitos estudantes tiveram, por isso, pouca condição de estudar nesse período. Um fato que irá ocasionar uma série de problemas, não só no momento atual, mas, principalmente, para o futuro da Educação do país.

Mas, vamos tentar personalizar um pouco este papo. Eu lhe pergunto: você é mãe ou pai? Seu filho está em idade escolar? Como você avalia a performance dele neste período pandêmico? Trocando em miúdos, você acha que ele ou ela aprendeu algo durante estes 16 meses?

Seria maravilhoso ouvir um “sim” ou, ao menos, um “talvez” para esta pergunta, porém, infelizmente, não é a resposta comum neste momento. A verdade é que a maioria dos pais, professores e gestores de Educação está evitando tratar desta questão, justamente porque a resposta já aponta para cenários tenebrosos. Mas evitar a pergunta não faz que elas não existam. E existem. O que nossos estudantes aprenderam no campo acadêmico durante a pandemia? Onde a escola errou? O que deveria ter feito? O que poderia ter evitado fazer? O que podemos fazer agora? Como estas lacunas afetarão os nossos estudantes e profissionais de amanhã?

Há estudos e pesquisas que vem tentando responder a estas perguntas incômodas. Alguns deles são estimativas feitas considerando o tempo de fechamento das escolas públicas e privadas que já foram capazes de medir na prática os potenciais impactos da crise gerada pela Covid-19 nos sistemas educacionais. O Banco Mundial prevê uma sensível piora na capacidade de leitura e compreensão de textos pelos estudantes. Em um relatório sobre a situação na América Latina e no Caribe, a instituição estima que o percentual de “pobreza de aprendizagem” no Brasil tende a aumentar de 50% a 70% ao que era antes da pandemia. O relatório alerta para um grave aumento das dificuldades de leitura e interpretação entre as crianças de 10 anos, as quais tendem a não conseguir entender nem sequer um texto simples.

Afirma o Banco Mundial estima que os efeitos do fechamento das escolas são críticas e podem provocar que cerca de dois em cada três alunos não sejam capazes de ler ou entender textos adequados para a sua idade. A publicação calcula que os alunos dos países latino-americanos e caribenhos passaram – pelo menos – 159 dias sem aulas presenciais no ano letivo de 2020. As lacunas de aprendizagem podem elevar de 55% para 71% os estudantes de 15 anos com desempenho abaixo dos níveis mínimos de proficiência no Pisa, exame que avalia leitura, matemática e ciências. Em outras palavras, o que já era ruim se torna péssimo. Uma realidade que, decerto, vai aumentar mais ainda o fosso entre os 20% de alunos mais ricos e os 20% mais pobres. Porém, é importante notar que ambos os grupos vão ter perdas significativas de aprendizagem. Ou seja, a diferença cresce porque o abismo em relação aos mais pobres é ainda maior.

Há estudos que apontam que os alunos dos anos finais do Ensino Fundamental (6º ao 9º ano) podem ter regredido, em média, até quatro anos em leitura e língua portuguesa, como também, na nota média de matemática, com perda equivalente de até três anos de escolaridade, se levarmos em conta os resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).

Não obstante, o que chama a atenção não é o descompasso da escola pública, coisa que se explica pelas dificuldades estruturais do ensino público, mas, principalmente, pela atitude claudicante das escolas particulares as quais, na sua maioria, demonstraram pouca ou nenhuma capacidade de adaptação às condições exigidas pelo distanciamento social demandado pela pandemia. Estas necessárias adequações não se verificam em muitas escolas particulares ainda nos dias atuais, porque as principais causas desta omissão ainda não foram atacada: a metodologia ultrapassada e carência de treinamento dos professores. No fim, o resultado é bastante semelhante em diversas escolas e os alunos se mantêm tão desligados quanto suas câmeras. No que as escolas erraram e continuam errando? Não conseguem envolver os estudantes no processo de ensino-aprendizagem.

Entretanto, em meio a tantas dificuldades, a publicação do Banco Mundial demonstra que o advento da pandemia poderia ser uma oportunidade para que os sistemas de ensino se tornem “mais eficazes, igualitários e resilientes” e sugere que o foco deveria ser nos segmentos mais desfavorecidos da população, a fim de aumentar os acessos e a qualidade do ensino remoto.

Uma coisa é fato: o ensino híbrido veio para ficar na Educação! O problema é que os educadores e gestores foquem em demasia nas tecnologias e não observem que, sem novas metodologias, os recursos não promovem qualquer avanço. “A continuação do aprimoramento do alcance e da aceitação do ensino a distância para os grupos mais desfavorecidos, assim como a qualidade geral da aprendizagem remota, será fundamental para mitigar as perdas de aprendizagem e reduzir as desigualdades”, afirma o relatório do Banco Mundial.

Quais são as recomendações do relatório do Banco Mundial , portanto, que os educadores deveriam trazer para as suas agendas neste momento?

– “Mais tempo de aula, reforço para os alunos, simplificação dos conteúdos ou aceleração da aprendizagem são opções que apresentaram bons resultados.”

E, ao lado de tudo isso, formação de professores.

Então, se você é mãe ou pai e identifica que seu filho apresenta defasagens neste momento, a sugestão é que busque compensar estas perdas, as quais devem, infelizmente, afetar na evolução educacional do seu filho ou filha, por muitos anos.