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Uma viagem na Literatura
01 de abril, 2019 - por Max Franco
Mais um brilhante texto que foi resultado da disciplina de Estudos do meio na Pós-graduação de Metodologias Ativas (IBFE – ARARAS)
Márcio José Bergamini Júnior
Metodologias Ativas – Disciplina: Estudo do Meio
Exercício: Storytelling como registro de estudo do meio
Thor batera com o martelo na cabeça de Manuel Bandeira, fazendo-o ir embora pra Pasárgada. Quando a cabeça do poeta abriu, marias-fumaças em miniatura saíram volitando e desmancharam-se no ar. O barulho do trovão foi tão grande que pulei da cama assustado. Foi como se a minha cabeça tivesse sido atingida pelo Mjolnir. Olhei pela janela do hotel e a minhoca de metal corria molhada por entre a chuva grossa que caía na Paulicéia desvairada. As rodas rangendo nas curvas dos trilhos, inexoravelmente. O celular ainda não havia despertado e os amigos babavam seus travesseiros alheios ao dilúvio que desaguava lá fora. Talvez a saída fosse adiada. Talvez eu ganhasse tempo para revisar a apresentação.
Fui ao banheiro e fiz as abluções matinais. Café com pão, café com pão, café com pão declamava o meu estômago. Ainda era cedo para o café e queria esperar os amigos. De certo, também sonhavam com o filme da noite passada. Aproveitamos a estadia em São Paulo e, na noite anterior, pudemos conferir a estreia de Vingadores Ultimato. Algo que talvez só fosse possível depois de ver os memes e spoilers no Insta, afinal, as coisas na nossa cidade demoram uma vida para chegar. Vingadores é outra história, uma história que ficará marcada para sempre na vida de minhas retinas tão fatigadas, como a pedra de Drummond está nas suas.
Peguei o celular, coloquei os fones e abri a Google Classroom. A professora compartilhara vídeos bacanas e podcasts que ela preparou para vermos antes da viagem. Quis rever o conteúdo. Não podia fazer feio na apresentação e deveria honrar a grandiosidade dos modernistas nas escadarias do teatro que iríamos pisar em breve. É muito interessante perceber como a Semana de Arte Moderna aconteceu. Os trechos da minissérie Um só coração que a professora separou mostram os poetas, os pintores e a articulação do movimento. Dá vida a tudo. Ao mesmo tempo, faz nossa mente viajar para aquele momento de ruptura e ousadia em busca da simplicidade da forma e da construção de uma arte genuinamente brasileira. Como eu queria ter sido um poeta modernista!
Nas cenas em que aparece Anita Malfati, lembrei das explicações que Júlia fizera na tarde de ontem na Pinacoteca. Fiquei pensando naquela pintora ao mesmo tempo esquisita e encantadora. Pinturas de uma singeleza sublime e um impacto profundo. Júlia fez tudo ficar mais claro pra gente. Júlia também carrega a leveza de Anita e causa impactos tão poderosos quanto o martelo de Thor. Tarsila também veio à memória nesse momento. Lembrei da Carla e do Rian vestidos de Tarsila e Oswald. Vestidos assim diante das obras da artista, eles dramatizaram e explicaram pra turma e para os visitantes da Pinacoteca a importância da dupla para o movimento modernista. Uma comédia só! Eu não pensei que o Rian fosse capaz de decorar os poemas de Oswald pra declamar, afinal, ele esquece de usar até a agenda pra entregar os trabalhos. Foi muito divertido. As fotos dos dois no coreto em frente à Pinacoteca foram as que mais bombaram no Insta da Viagem. Parece-me que vão ao teatro vestidos assim. Tomara que sim.
Revi também a biografia do Manuel Bandeira. É estranho pensar que ele não tenha participado da Semana. Deve ter tido seus motivos. Doente e tímido que era deve ter preferido ficar em casa com seu porquinho-da-índia. Sei que Os Sapos coaxaram forte e fizeram a plateia coaxar também. É esse o impacto que quero com a minha apresentação.
O celular do Caio despertou e eu fui atingido por um travesseiro babado na cara. Joguei no André para acordá-lo. O Caio acorda já ouvindo música e isso me atrapalhou a revisão da matéria. Esperei os dois se arrumarem para irmos ao café.
Descemos. O café com pão estavam fresquinhos. As garrafas de leite me lembraram Drummond. Espero que nenhum leiteiro tenha morrido nessa aurora cinzenta de São Paulo. Comemos. A professora nos reuniu no saguão do hotel e explicou o roteiro da visita. Não poderíamos tirar muitas fotos no teatro. Uma pena. Tentaríamos autorização para a gravação de uma das dramatizações programadas.
As capinhas de chuva foram providenciais. Nos molhamos menos do hotel ao ônibus e do ônibus ao teatro. Que sonho se realizava diante dos meus olhos. Aquelas escadarias, aqueles detalhes, os lustres, as colunas de mármore. Parece que eu também participara da semana de arte moderna. Toda aquela movimentação se passava diante dos meus olhos.
As apresentações começaram. Cada aluno expôs seus olhares e ideias. A professora nos provocava para tecer relações entre as obras e as influências que os artistas exerciam uns sobre os outros. Também tivemos que retomar características das vanguardas europeias. O Caio surpreendeu ao falar do realismo e de Anita Malfati. Certeza que a Júlia o ajudou.
Nas escadarias, eu declamei Os Sapos e de Manuel Bandeira. Me senti o próprio Ronald de Carvalho. A plateia participou com vaias combinadas e que deram uma atmosfera de reviver aquela emoção. Depois de declamar, falei do sonho que me acordou pela manhã e de como Thor esmagara o poetinha. Falei sobre seu lirismo cotidiano e das características de sua obra. Declamei mais dois poemas, como havia programado e seguimos explorando a obra de arte que por si só é o Teatro Municipal.
Carla e Rian deram um show à parte. Tarsila e Oswald estavam ali! Vivos. Conseguiram até subir no palco para uma performance romântica e declamação de poemas. Foi bárbaro! Alguém lembrou Frida Kahlo e Diego Rivera, fazendo um link interessante com a história de amor dos artistas e o impacto de suas obras para o estridentismo, movimento que marca o modernismo mexicano. Não conhecíamos o termo, nem o movimento. Ficou como tarefa para ampliação do repertório.
Depois da visita, partiu Mercadão! Ansioso pelo famoso pão com mortadela e pela roda de conversa que seria conduzida para consolidarmos as impressões daquela manhã tão inspiradora.
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