Observar as pessoas é um hobby pessoal faz tempo.
Gosto de apreciá-las in natura, genuínas, sem poses nem percepção de serem observadas.
É um esporte simples, quase rudimentar. Eu peço um café e olho. Preciso definir, não é olhar espiando. É olhar pesquisando. Um olhar parente daquele do botânico na floresta, do antropólogo na aldeia. Não é a curiosidade do voyeur, mas o interesse do observador, de quem precisa sempre de mais matéria-prima para o seu ofício. E eu coleciono histórias.

Ontem na cafeteria, a moça fitava seu celular com uma expressão concentrada, quase aflita.
A jovem olhava o aparelho com a ansiedade de quem abre um pacote-surpresa.
De repente, a sua expressão se transformou totalmente, as rugas da testa se retesaram, os olhos desanuviaram e, inadvertidamente, como uma fresta de sol que se abre em meio a nuvens pesadas de chuva, a jovem abriu o mais exultante sorriso.
Do que sorri a moça? – ousei me perguntar.
Sorri de um mero meme?
Não acho. Não era desses sorrisos ordinários que encontramos em quaisquer esquinas.
Ganhou uma promoção no trabalho? Fechou o job com o cliente?
Não acho. Não parecia desses sorrisos pecuniários com preço na etiqueta.
Vou especular outro naipe de sorriso. Um sorriso com o carimbo dos amantes e dos amados. Vou preferir acreditar que o Amor-da-sua-Vida, enfim, voltou de uma longa viagem pelo exterior, quem sabe pelo Nepal, e que chegou de surpresa em guarulhos. Em 45 minutos estou em casa, meu amor, para lhe ver. Trouxe presente e sou eu. Meus olhos são seus. Minha mente, também. Minhas mãos, suas. Minha vida, inteira. Vamos nos casar e teremos o Robertinho e a Daniela, um dálmata trapalhão, um porquinho da índia que vai viver no jardim. Sim, teremos também um jardim na nossa casinha de portas azuis. Eu cheguei, meu amor, seremos tão felizes quanto sonhamos, porque você é a mulher que quero pelos dias da minha vida.
Ela leu tudo isso, foi feliz naquele momento como um prelúdio para a vida inteira.
Há sorrisos dessa qualidade. Sorrisos eternos.