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2023/2024

25 de dezembro, 2023 - por Max Franco

Foi-se 2023. Talvez – para mim – seja melhor dizer foram-se 2023, afinal este foi um ano tão singular que merece  predicado no plural.

Mais uma vez, me vem a frase do grande Rubem Braga: Como passam os anos! Ultimamente têm passado muitos anos!

Já Mário, não menos grande, escreveu um poema sobre a passagem (célere-imperdoável) do Tempo:

A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal…
Quando se vê, já terminou o ano…
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado…
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas…
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo…
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.
(Mário Quintana)

Enquanto eu, que nem sou da envergadura de Braga nem de Quintana, me resta apenas citá-los e, talvez num arroubo nada juvenil de inveja, tentar imitá-los com as minhas palavras, tão tacanhas diante das dos mestres.

O fato é o Tempo passa e, por isso, 2023 veio, vicejou, vigorou e agora se esvai. É o velho império do calendário, a ditadura do movimento dos ponteiros: o Tempo, inexorável e invencível.

2023 foi um ano plural, porque, entre tantas características, posso dividi-lo em dois, afinal, até julho estive no nordeste. Depois, parti com mala, cuia e cachorra, para São Paulo, onde agora vivo. A função profissional é a mesma: sou diretor de escola, mas a rotina é completamente outra. Aqui sofro pela distância dos filhos e sou feliz por todo o resto. A Vida é assim. Nunca é 100%. Talvez seja proibido ser feliz inteiramente.

Faz dez anos exatos que saí de Fortaleza. Larguei ali um emprego tão bom que me gerou acomodação por décadas. Não deixei aquele trabalho porque queria algo melhor, mas porque desejei algo maior. Porque me sentia apequenado nas minhas atribuições. Porque sabia que poderia fazer mais. Estava, há anos, bem instalado naquela zona de conforto, com desafios que já conhecia, ao lado de pessoas que não mais me instigavam a explorar as minhas potencialidades. Nesse contexto, estou ciente de que vivia uma vida pacífica, mas medíocre.

Pois desafios não me faltaram nesses últimos dez anos. Se era explorar minhas capacidades que eu queria, tive chances de baciadas. Tive tantos endereços nesse período que nem me lembro. Fiz amigos que nem sei como seria a vida hoje sem eles. Outros, por sua vez, ficaram no passado. Estudei como nunca antes. Fiz pós-graduação em Educação e Mestrado em Gestão. Hoje, concluo graduação em pedagogia. Fui diretor de inovação de uma grande empresa de Educação no estado de São Paulo. Criei um curso de pós-graduação em Metodologias Ativas, o qual coordeno nacionalmente. Ministro aulas e palestras com frequência, e em várias latitudes do país. Tenho no meu poertfólio, por exemplo, empresas como Globosat, Mauricio de Sousa Produções, Claro, Estadão, Porto Seguro, Engeform, entre outras. Acrescentei 12 obras aos livros que já tinha escrito, inclusive produzindo uma coleção de livros didáticos com fins socioemocionais para serem adotados por escolas de todo o país (Coleção Ativar Emoções). Conduzi grupos culturais e educacionais em diversas ocasiões para Portugal, Itália, Emirados Árabes e Finlândia. Atuei como consultor e assessor de escolas e faculdades. Promovi não sei quantas formações de professores em várias cidades brasileiras. Fui mentor de escrita criativa de inúmeros diretores e presidentes de empresa. Produzi mais de 600 textos no meu blog. Tornei-me referência nacional no tema Storytelling. Rodei esse país de leste a oeste, de norte a sul. Sobrevivi a uma pandemia, ficando meses completamente sozinho. Desfiz um casamento e me apaixonei pela mulher – incomparável – com a qual vivo hoje, e me alegro todos os dias por essa conquista.

Por fim, nesses dez inacreditáveis anos, me tornei professor de faculdade, coordenador de cursos de pós-graduação, palestrante, revisor, assessor, consultor, autor e diretor de escola. Além disso, estou seguro de que sou melhor pai e companheiro da minha mulher.

Falando dessa forma, parece até que foi fácil e simples conquistar esse estado das coisas, contudo posso garantir que não houve nem sequer um dia, um desgraçado e suado dia, que não tenha sido de luta, dor e persistência. Foram dez anos de pura instabilidade e insegurança. Uma década de medo. Um terror diuturno de, principalmente, não conseguir fornecer aos meus filhos a condição de que precisavam e as chances que mereciam. Estou bem feliz hoje ao ver que todo esforço deu resultados. A meus filhos nada faltou. São pessoas impressionantes. E eu me sinto muito mais realizado do que há 10 anos. Em especial, me sinto orgulhoso, menos pelas coisas que fiz do que pelo sujeito que sei que me tornei. Hoje, olho no espelho e contemplo as cicatrizes, invisíveis aos olhos alheios, mas que me fizeram mais forte, íntegro e inteiro.

Não acho porém que subi qualquer patamar no pódio da raça humana. Há tanto ainda a ser feito, porém é bom reconhecer que se houve uma estrada, essa estrada me conduziu para cima,  mas não para cima de ninguém. Para cima de mim mesmo.

2023 foi especial porque foi a culminância de toda essa trajetória. Hoje, depois de 10 longos anos, me desperto todas as manhãs, finalmente, sem medo. Se houve dias nos quais padeci (e foram muitos!), hoje comemoro. Que bom haver dias de se celebrar!

Parto então para 2024, o meu 54o ano de vida, com peito e mente cheios de coragem, amor, amizade, dignidade, compromisso e esperança. Sei que existirão obstáculos. Os sinistros sempre existem e estão às espreita nas esquinas só esperando a oportunidade para dar o bote. Porém me sinto preparado para enfrentá-los. E caso não esteja, improvisarei quando a dificuldade se apresentar. Dei conta até aqui. Afinal, não sou amador nessa lida. E me sinto amando e sendo amado por quem me importa ser amado. Que venha 2024 com as suas benesses e ameaças, com as suas promessas e injúrias, com as suas virtudes e desditas. Eu estou pronto.