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Autoestima e autoconhecimento não rimam
02 de junho, 2018 - por Max Franco
Ainda motivado pelo livro de Mark Manson, me vieram algumas reflexões que quero compartilhar com quem – porventura – tiver alguma curiosidade de conferi-las:
– Ligar o f*da-se não é tão simples quanto parece. Na verdade, o autor sugere que saibamos distinguir o que merece e o que não merece esse “start”. Não dá para encarar todas as batalhas. Não dá para lutar em todos os fronts. O problema é que as pessoas cobram demais da gente e a gente se cobra mais ainda. Saber ligar o f*da-se é saber fazer escolhas. Quem quer dar conta de tudo, acaba não fazendo nada realmente bem;
– Não há garantias. Shit happens. A vida não é uma matemática de causa e efeito. Todos os dias, em todas as latitudes da terra, acontecem coisas ruins (muito ruins) a pessoas boas. Também, ocorre exatamente o contrário. Mengele, um dos maiores sádicos do nazismo, que fazia experiências médicas com judeus (verdadeiras atrocidades, como quebrar 40 vezes o mesmo braço para estudar a sua capacidade de regeneração, ou injetar cimento liquido no ventre de mulheres grávidas) morreu de velho passeando no litoral do Rio. Tal qual ele, muitos. Muitos foram canalhas inquestionáveis e tiveram uma vida de privilégios. (Estão no inferno? Sério que você acredita nisso? Quantos anos você tem?) É lógico que, geralmente, há alguma tendência de “lei do retorno”. Mas é uma mera tendência. Não há muita justiça sobre a terra. Não há deus em canto algum que se importe com a humanidade nem destino que nos norteie. Não há muito sentido na vida a não ser aquele que você atribui. Os fracos e pequenos não são protegidos. Os mais fortes dedicam a vida a explorar os menores e vencem mesmo. O que nós podemos fazer com isso? O melhor que podemos. Mas não podemos tudo. Desesperar é uma opção. Na verdade, acho que estamos todos, o tempo inteiro, desesperados. A procura incessante por prazer é uma prova deste desespero. A fuga para as religiões é outra. Não conseguimos aceitar que a vida é só isso e que não haverá nada de melhor depois. Erguemos um palácio para habitarmos na próxima vida já que vivemos numa espelunca nesta. Aliás, não só vivemos num casebre, vivemos num casebre mal frequentado e apinhado de gente medíocre. Tão medíocres quanto nós;
– Nós não somos especiais. Não somos eleitos. Não somos extraordinários. Poucos, na verdade, foram. E foram em situações bem específicas. Grandes executivos raramente são bons pais e maridos. Grandes atletas geralmente não burros que nem uma porta. Muitos dos grandes artistas e cientistas foram grandes canalhas. Não há tempo nem energia para ser bom em tudo. 99% da humanidade, por exemplo, é bastante rasa e medíocre. Eu sou. Você deve ser também. A compreensão disso, porém, não deve nos atirar num conformismo anarquista, mas diminuir a nossa maquininha de julgar os outros. Eu não sou a quintessência das maravilhas, por que eu exijo que os outros sejam?
– O seu otimismo e o seu pensamento positivo serve apenas para você ser otimista e pensar positivo. Quem tem esperança sabe esperar, só isso. Você pode ser triste, realista e produtivo. E, em contrapartida, ser um alegrinho babaca ou um incompetente com iniciativa. Grandes gênios não se achavam capazes, eram depressivos e derrotados pela vida. Principalmente, eles não se achavam gênios. Você se acha e fez o quê? A maioria das pessoas que tem autoestima se conhece pouco, essa é a verdade. Autoestima e autoconhecimento não rimam;
– Não temos controle sobre muita coisa. Não temos controle sobre o mundo. Não temos controle nem sobre os nossos filhos. Mal temos – realmente – sobre nós. Temos real controle sobre o nosso corpo? Ou sobre nossos pensamentos? Nós sabemos controlar as nossas emoções? Se temos (mal) sobre nós, como teríamos sobre o mundo? Em suma, faça o seu melhor, mas saiba se resignar e lidar com a frustração quando não conseguir;
– A geração atual já nasceu ofendida. Atualmente, tudo ultraja todo mundo. Ninguém releva nada. As pessoas parecem o Bruce Banner no 1o filme dos vingadores. “estão com raiva o tempo todo!”. É lógico que devemos ter cuidado para conseguirmos viver em sociedade e desenvolver empatia. Claro que devemos. Mas, já acordar em pé de guerra e passar o dia à flor da pele também não ajuda qualquer harmonia relacional. Muita gente, nesse início de século, anda muito ofendidinho. É a geração floquinho de neve, sem resiliência, sem bom-humor, sem ponderações. Esta galera também precisa aprender a ligar o f*da-se. Ou nós que precisamos aprender a ligar esse dispositivo para elas.
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