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55
14 de fevereiro, 2025 - por Max Franco
-Eu não me vejo com a idade que tenho! – É o que a maioria das pessoas diz, principalmente quando a sua RG começa a demonstrar sinais de decrepitude.
Ao que comento, mentalmente, para não criar inimigo:
-Não é você que está te vendo. Deixa que a gente vê a sua idade, e decadência, por você.
A verdade é que todo mundo tem a idade que tem, uns parecem mais, outros, menos. Entretanto, não dá para ludibriar o Tempo. Ele – sim – sabe que sabe cada segundo de vida que cada um tem e vai vencê-lo indubitavelmente. Afinal, todos somos submetidos ao seu jugo e subordinados à sua poderosa ação. Eu não tenho 55 anos. Esses 55 anos me têm. E mais algum tempo – sei lá qual – que ainda terei no selfservice da Vida.
Pois tenho a idade que tenho. Fatalmente. Não me engano nem quero enganar ninguém. Não me renderei fácil, mas sei que perderei a partida, e o campeonato, no final. Mas até lá, será resistência. A ampulheta virou faz tempo e a areia escoa veloz, sem piedade. 55 passaram-se com a velocidade comum dos 55 anos. Dez anos, num piscar de olhos. Em compensação, uma noite, por bem ou por mal, pode durar 3 meses. É que o Tempo brinca com a gente.
Não é de todo ruim ter 55. É melhor ter 55 anos de vida do que morrer jovem. Estou naquela idade em que o grisalho pode soar como precoce e ser interpretado como maturidade, mesmo que não haja tanta. O pior dos 55 é quando você acha que é capaz de fazer tudo como se tivesse 30 ou 40. Mas você não tem 30 nem 40. Então, qual é a vantagem de se ter 55? Ainda não sei. Decerto não estar morto nem inválido é vantajoso. Porém só a juventude é gloriosa. E é uma pena que os jovens só descubram isso quando não dá mais tempo para ser jovem. E ninguém é mais anacrônico e melancólico do que um sujeito que busca burlar o Tempo. O Tempo, sabe-se, mastiga todo mundo.
Em anos anteriores, teci listas das “53 coisas que sei aos 53” e das “54 que não sei aos 54”. Dessa vez, não farei lista alguma, porque as certezas têm se comportado igual aos meus cabelos, a cada ano, tenho menos. De tempo em tempo, cai uma certeza e nasce nova dúvida. Aos 25, eu era um sábio e dominava qualquer assunto. Era um acervo ambulante de respostas seguras; por sua vez, aos 55, sei quase nada e tudo é uma grande interrogação. Nessa toada, caso viva até os 80, serei um ignorante completo.
-Contudo, um homem deve saber algo! – alguém dirá. – Deve inclusive acreditar em algo!
Pois é, eu acredito em pouca coisa e sei pouca coisa. Mesmo sabendo que acreditar e saber não são a mesma coisa.
Acredito, por exemplo, que o meu trabalho pode fazer a diferença na vida de alguém e, por isso, tem algum sentido fazê-lo.
Sei que, entre desventuras e aventuras, decepções e surpresas, fiz alguns amigos na vida e são todos muito preciosos para mim.
Acredito que os seres que amei e amo nesta vida definiram muito do que sou, por isso amo amá-los.
Sei que um homem não vale pelo que acredita, nem pelo mesmo que sabe, mas pelo que faz com o que sabe e acredita.
Hoje eu sei quem sou e não me espanto com o que vejo. Não me nego, não me engano, não me fujo, não me encanto. Sou o que sei. E saber-se é muito.
Hoje eu tenho 55 anos. Não sei se posso ser chamado de jovem senhor, semivelho, pós-jovem, meia-idade, quase velho, mas sei que já estou por há um tempo e não foi sempre agradável nem desagradável, mas foi puramente Vida. Tenho essa convicção de ter entregado tudo, de ser generoso com a Vida. E ela sempre foi pródiga também comigo. Então estamos – eu e a Vida – empatados. Ninguém deve nada a ninguém.
Porém, peço ao Tempo, esse sim, mais paciência, porque tenho coisas ainda a fazer e uns compromissos na agenda.
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