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A curiosidade

07 de maio, 2016 - por Max Franco

 

Depois de alguns dias na Europa, estou, mais uma vez, retornando para o meu país.
Nestes momentos, há sempre duas emoções que me vem tocar a campainha: satisfação e, mesmo que não goste de admiti-lo, certa angústia. É o que chamo de “depressão pós viagem” ou rebrasileiração compulsória (ou compulsiva, sei lá!) Sempre me traz à boca um gosto bom , e, depois, depois azedo, aprazível e doloroso, ou sofridamente agradável.
Há muito da Parangaba em mim para eu me permitir cair em preciosismos ou elitismos gratuitos. Eu amo o Brasil e não escolheria outro lugar para morar. Porém, também sei do que gosto no meu país, e a maioria os motivos tem a ver com o pronome adjetivo que empreguei. Gosto por uma razão de pertencimento. Nós nos pertencemos. Somos íntimos em virtude de uma relação duradoura e, por isso, como qualquer outra, com amor e ódio se intercalando com regularidade.
Ultimamente, porém – não posso mentir – o segundo sentimento anda prevalecendo.
Não tem nada a ver, especificamente, com o nosso desastrado governo, ou com qualquer sentimento autovitimista ou complexo de vira-lata. Há países mais organizados e menos organizados. Neste caso, de vários, perdemos todos os dias de 7 a 1, porque somos sistematicamente desorientados. Por isso, o meu argumento tem apenas relação com uma questão: a falta de curiosidade do povo brasileiro.
Curiosidade? – perguntaria o leitor desavisado.
Curiosidade. – repito.
Entre tantas faltas, por que fazer este recorte tão específico?
Por uma razão simples: não aprendemos com os outros.
Não esticamos o pescoço e espiamos a prova dos demais para acertar as questões.
É lógico que só o Brasil padece de brasilidade para ter os seus problemas, todos do tamanho da sua envergadura. Mas, cada um padece das próprias desditas. O Chile não tem dificuldades? A Finlândia não sofre pelas suas circunstâncias? E estão atabalhoados como nós? Nada disso! Por que, então, não podemos aprender algo com eles?
Austrália, Nova Zelândia e Canadá também não são tão grandes e “jovens” como nós? O que acontece nesses países de tão grave? (Dá mal para saber que existem de tão pouco que frequentam os noticiários! )
Foi a colonização?! Isto é tolice! A colonização já foi. Somos nós hoje que fazemos o país e não estamos acertando muito.
Foi a religião?! A América católica é pobre e deseducada. O católico se acomoda com pouco porque almeja o paraíso após a morte. Outra tolice. Não conheço católico ou crente, judeu ou ateu atualmente que não queiram prosperidade aqui e agora.
Então onde erramos? Erramos porque somos péssimos cidadãos, não entendemos nada de república, temos líderes horrorosos, somos eleitores preguiçosos, não nos interessamos pelos nossos candidatos, não os fiscalizamos, não pensamos coletivamente, não nos organizamos, não temos um projeto de Estado… E vários outros “não’s”…
Estou cansado de ver o brasileiro apontando o dedo apenas para os políticos ( Os quais também não são estrangeiros. Não foram enviados para cá para nos sabotarem. Nós fomos o exército inimigo e somos competentes nessa tarefa! ) Nós os colocamos lá, e, quer saber, infelizmente, de fato, eles nos representam. É triste dizer, mas eles não são assim tão diferentes de nós.
É o que eu prescreveria hoje para os brasileiros: curiosidade e mangas arregaçadas. Tentemos verificar como outros povos superaram os seus problemas, alguns tão grandes quanto terremotos, tsunamis, guerras e políticos ruins. E aprendamos.
O único elemento que, realmente, aponto como positivo neste momento grave no qual estamos é que o debate ganhou as ruas, praças, bares e as redes sociais (principalmente as redes sociais). Talvez (oxalá, quisera), essas discussões fomentem no povo alguma consciência política.
Eu vejo, por exemplo, até os muito jovens envolvidos nessas discussões. É claro que impera ainda muita desinformação e preconceitos (ambos herdados geralmente dos pais), mas já podemos considerar um começo de mudança de mentalidade. Há um princípio de politização, a qual, espero, não seja apenas um arroubo.
Eu tenho certeza de que o problema do Brasil não está fora das suas fronteiras. A pior coisa para um brasileiro é outro.O homem é o lobo do outro homem. E brasileiro é o do brasileiro.
Mas, a boa notícia é que a sua salvação também é. Ou poderia ser.