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Amor e desamor no século XXI
22 de setembro, 2016 - por Max Franco
Por que os casais se separam?
Pois é, este é um tema que – por incrível que pareça – mesmo em 2016, anda em voga. E o mais engraçado é que separações sempre consigam atrair tantos olhares. Mesmo de não celebridades, de gente cotidiana e desglamourizada, acontece sempre de despertar a curiosidade alheia. “Por que separaram?” é o que todos querem saber. Simpático que ninguém quis saber “por que se juntaram”.
Ultimamente, porém, foram separações midiáticas que trouxeram o assunto à baila. Inclusive trazendo à superfície questões infames:
– O amor existe? E eu respondo:
Claro que existe, insisto. Inclusive o eterno. Existe amor vermelho, amor amarelo, amor azul-bebê… Existe amor de todos os jeitos, inclusive o amor que acaba. Estranho que isso seja, de alguma forma e para alguém, ainda uma novidade.
– Por que deu errado?
Deu errado? Por acaso, não funcionou bem por muito tempo? Perdeu-se algo do que se viveu? Não foram felizes? Viveram juntos, viajaram juntos, sonharam juntos, realizaram muitos destes sonhos juntos e ainda dizem que não deu certo? Só é possível o carimbo do “deu certo” se morrerem juntos, de mãos dadas, fazendo juras de amor? Isso não é amor, é Nicholas Sparks.
– Por que acabaram?
Porque tudo que começa tende a acabar. Tudo que sobe costuma descer. O que não é passageiro debaixo do sol? ( até o sol é! ). Todas as relações acabam, nem que seja com a morte. Não é a duração da coisa que define se funcionou ou não. Há relacionamentos terríveis que fazem bodas de ouro. Que vantagem, não é? Bodas de ouro, votos eternos, infelicidade diária. E há relações curtas com a intensidade de uma vida. Casais se separam porque a separação faz parte do jogo. É o pênalti no futebol. Se alguém faz falta ou toca na bola com a mão dentro da área, a regra exige que se marque a penalidade máxima. Ocorre em todos os jogos? Lógico que não. Mas pode ocorrer? Claro. É do jogo. Já pensou quão bizarro seria se não houvesse esse regulamento?
– A culpa foi de quem?
Essa é a pior pergunta de todas. E eu respondo: foi minha. Minha, porque fiz a pergunta imbecil. Geralmente, todo mundo fica louco buscando o tal “pivô da separação”. É uma busca mais obsessiva do que pelo Wally ou por pokemons. As pessoas se esquecem que só existem motivadores externos se a motivação interna estiver abalada. Parece-me sempre óbvio: casais felizes não se separam. Sabe por quê? Se separar não é divertido. Na verdade, é sempre uma falência. É uma derrocada emocional, familiar, financeira, moral… Todos sofrem. Filhos sofrem, pais sofrem, amigos sofrem, ele sofre, ela… Por isso, que descasar, muita vez, exige mais coragem e desapego do que casar. Geralmente, as pessoas não se casam pensando em se separar. Nem Chico Anísio, Vinicius e Elisabeth Taylor planejavam separações nos seus inúmeros ritos matrimoniais.
– Foi a rotina?
Pergunte a qualquer separado do que ele sente falta da sua relação anterior. Geralmente, eles vão dizer que sentem falta da rotina, do dia a dia, do dia comum, de trazer o pão, da piada interna, de falar com os olhos, de falar mesmo sem os olhos, do lado cama, do prato preferido, do presente inesperado, da tranquilidade de ser quem você é sem querer ou precisar impressionar, ou mostrar algo que não é. Não é a rotina que destrói relacionamentos. São relacionamentos que destroem relacionamentos. Não dá para inventar a pólvora todos os dias ou fazer um sexo acrobático-megablaster todas as vezes. Vamos parar de demonizar rotinas e ter boas rotinas. Às vezes, até dá para fugir delas, porém não dá para atribuir à rotina o término do amor.
– O que acaba o amor?
O que começa? Não sei. Você sabe? Amor tem pouco a ver com sabedorias. Amar é da humanidade. Exatamente como odiar, invejar, gostar… Ama-se apesar, mais do que por causa. Ama-se porque ele é quem é, e mesmo o outro sendo quem é. Amor explicado racionalmente, com tabelas excel, não é amor, é interesse. Ama-se porque é do amor amar.
Da mesma forma que se ama, se desama. Acontece de se desamar. Você desama um dia e deixa pra lá. Depois, se desama dois dias, dois meses, dois anos… Aí não dá. Viver junto é tarefa difícil. Viver com quem não se ama é intolerável. Isso não obrigatoriamente tem a ver com culpas, pivôs, rotinas. Quando o amor não mais acontecer que ocorra o respeito, a admiração mútua, o exercício da memória e a paz. Afinal, desama-se porque também é do Amor desamar.
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