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Bullying & storytelling
03 de abril, 2016 - por Max Franco
Quem jamais passou por uma situação de bullying não deve ter tido infância.
Partindo dessa premissa, posso confessar que tive bastante infância. Eu era nerd antes mesmo da palavra nerd ser popularizada. E era o pior tipo de nerd, o nerd com layout de nerd, óculos de aros grossos de nerd, mas sem as notas admiráveis de nerd. Era, portanto, um nerd genérico. Um nerd de notas cansadas, que serviam apenas para passar de ano e sem qualquer glamour. Era, então, um nerd sem as ciências dos nerds, mas com a timidez típica de quem não é facilmente aceito nos ambientes que frequenta.
Se sofri bullying?
Entre os 8 e os 10 anos, eu não consigo me lembrar de um só dia de escola que não fosse recheado de constrangimentos e agressões. Enquanto a maioria das pessoas cita a infância como um depositário de felicidade, meninice e saudades, a minha infância é algo que fiz questão de me esquecer. Até hoje, é apenas com certa dificuldade que me recordo de algo. Mas nunca me esquecerei dos nomes dos algozes de outrora. A verdade é que , acredito, os dois – Érico e Estênio – até sentiam algum ciúmes de mim. Cada um considerava que a tarefa de me maltratar cabia exclusivamente a ele e, por fim, se revesavam nessa divertida atividade de me impor as maiores humilhações.
Vamos para a definição desse fenômeno comum:
- Bullying é a prática de atos violentos, intencionais e repetidos, contra uma pessoa indefesa, que podem causar danos físicos e psicológicos às vítimas. O termo surgiu a partir do inglês bully, palavra que significa tirano, brigão ou valentão, na tradução para o português.
O cinema, as séries e a literatura, volta e meia, tratam do tema do bullying. Obras como “Extraordinário”, “Karatê kid”, “Carrie, a estranha”, “13 reasons why”, além de outros, trazem o debate para a pauta do dia. Há, portanto, um storytelling com uma mensagem definida sobre o tema: bullying é errado, sem graça e pode ser extremamente perigoso para quem sofre. Isso, porém, definiu que o bullying diminuiu? Não sei se é possível realizar pesquisas assertivas sobre o tema, até pela carência de pesquisas acerca da questão.
Entretanto, decerto, é muito melhor falar sobre a problemática do que calar-se. A mudez sobre qualquer estigma social, geralmente, só incentiva a sua prática. Atualmente, ninguém pode reclamar de silêncio quando se fala de bullying. Afinal, o tema é centro de debates, estudos, palestras e peças ficcionais em todo o mundo. Nas escolas, por exemplo, não há um só dia onde essa palavra não seja de alguma forma escutada. Porém, há uma tendência estranha dentro das paredes de colégios de onde quer que seja. Há sempre muita reclamação dos pais apontando que seus filhos sofrem bullying. Do outro lado, é muito (muito mesmo) mais raro se descobrir os causadores do bullying. A grosso modo temos muitas vítimas e quase nenhum culpado. O bullying deve ser provocado por espíritos malignos sem nome e endereço.
Nessa campanha da Pantene, o bullying é o tema central. Mais uma vez, observamos a utilização no roteiro da sequência clássica da Jornada do herói identificada por Joseph Campbell nos seus estudos ( em particular no “Herói de mil faces”).
A propaganda russa foi lançada em 2012 no youtube e, ainda hoje, emociona e arremata milhares views não só nas terras da Mãe-Rússia, mas em todo o mundo.
O bullying, afinal, é universal.
E o prazer da volta por cima também.
A Pantene utiliza com maestria nessa campanha a Jornada do herói, de Campbell.
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