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Mentores do mal

07 de abril, 2016 - por Max Franco

Costumo tratar nas minhas aulas e palestras sobre o trabalho do respeitado mitólogo americano Joseph Campbell.

Campbell nas suas pesquisas descobriu uma coisa inacreditável, que, em todas as épocas e nas diversas partes do globo terrestre, nós, nativos raça humana, contamos, recontamos e amamos a mesma história! Monomito é como o estudioso a denominou, ou, mais popularmente “A jornada do herói”!

A Jornada traz doze fases, as quais, engendram uma sequência típica e presente nas grandes histórias, nos mitos e lendas, e, claro, nos romances, séries de tv e produções cinematográficas do mundo atual.

Já que Storytelling é um dos meus temas prediletos, volta e meia, revisitarei a obra espetacular de Campbell. Neste momento, quero tratar do “Mentor”. Heróis, geralmente, precisaram de guias. Harry Potter teve o Professor Dumbledore, Frodo precisou de Gandalf, as crianças de Nárnia, o Leão Aslam. Entretanto, esse são mentores clássicos, do estilo guru ou velho sábio. Batman, por exemplo, tem o Alfred. O Superman é tão óbvio, que seus pais (os dois pais e sua mãe) vão fazer esse papel.

Mas é possível que existam mentores sem nenhum caráter? Sujeitos destituídos de ética podem funcionar como mentores? A ficção nos demonstra que há, sim, mentores do mal.  São personagens isentos de valores humanos  que orientam o protagonista na sua jornada. O resultado, porém, pode ser surpreendente. Às vezes, até funciona para o herói da história, mas não sem grandes riscos ou custos.

Mentores do mal são improváveis, mas existem:

  • O diabo, por exemplo, poderia ser mentor de alguém? Você já assistiu ao delicioso e intrigante Advogado do diabo? Keanu Reeves manda bem demais e, para mim, o último grande papel de Al Pacino;
  • Um psicopata pode funcionar como mentor? Anthony Hopkins arrasta seu oscar no maravilhoso papel que o eternizou: Hannibal Lecter, o canibal;
  • Você assistiu à Whiplash? Não. Pois providencie logo. Filme dos melhores. Estilo “de arte”, meio lance alternativo, sabe? Cara de independente, com produção barata. Excelente! A trama é simples: temos esse professor de música (J.K. Simmons, oscar de ator coadjuvante 2015) dotado de um estilo nazifascista de lecionar. O cara não se importa de humilhar e torturar emocionalmente os seus alunos. Na verdade, parece até se divertir com o seu sadismo. O seu principal é alvo é o aprendiz, personagem do jovem Miles Teller. A química vista entre os dois atores é uma das melhores que acompanhei ultimamente, criando uma das relações mentor – heróis mais incomuns das quais já vi no cinema. Confira sem medo. Se você não gostar da narrativa, não se preocupe: ainda há música. E que música!

E na vida real, também existem mentores do mal?

Claro que sim. Na maioria das vezes são tão nocivos à sociedade quanto uma grave epidemia. Eles vão usar a sua capacidade de liderar e influenciar para explorar, enganar e manipular as pessoas para os seus fins. Geralmente, são bons oradores, sofistas, convencem o público de qualquer coisa usando retórica e, claro, storytelling. É bom ter cuidado com esses personagens. Eles não existem apenas na ficção e podem fazer grandes estragos.