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O Medo nos tempos do Corona
15 de março, 2020 - por Max Franco
Florentino não podia pensar em Fermina sem um sorriso no rosto. Ele amava tudo que via quando a via e até quando não a via.
O problema é que fazia mesmo tempo que Florentino não via, ao menos in loco, em cores e ao vivo a mulher que amava. A vista, em tempos coronados, era sempre remota e mediada pelos aparelhos tecnológicos de uma era ainda mais tecnológica.
Entretanto o que surpreendia era que, nos anos 20, não eram os vírus cibernéticos que atormentavam o mundo, mas um vírus vírus, um vírus oriental, mais um artigo chinês que ganhou escala e volume, literalmente globalizando-se com uma rapidez colossal.
Nos tempos do cólera, Florentino também não tinha acesso à Fermina, não podia vê-la nem amá-la. Porém, era o pai da sua amada que proibia a sua aproximação.
Já nos tempos do Corona, o veto era muito maior. A condenação era social, mundial, sanitária. Florentino não devia vê-la e, se a visse, jamais poderia beijá-la ou tocá-la. Não se toca nas pessoas em 2020. Em 2020, recomenda-se clausura, castidade e solidão. O mundo virou um retiro, quase um convento. Todos, afinal, evitam o toque, porque o toque pode traz um afago mortal, um abraço letal, um beijo de Judas.
E como não bastasse o Medo, ainda temos para coroar esses tempos obscuros, ainda o Ódio e a Ignorância para fazer companhia. O Medo jamais caminha sozinho. O Medo só anda em bando.
Florentino colocaria sua vida em risco pelo amor de Fermina. E é verdade que Fermina também trocaria qualquer contágio pelos carinhos de Florentino. Mas, Florentino e Fermina são de outros tempos. Uma época na qual o Amor era amado.
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