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O que (não) sei aos 52
15 de fevereiro, 2022 - por Max Franco
Um sujeito de 52 anos é um jovem senhor, um idoso jovial ou um semivelho?
Não sei. Mas sei que envelhecer só não é pior porque morrer é coisa demasiado drástica. Além disso, sempre chega algum esclarecimento com os anos, mas muito menos do que eu especulava na juventude. “Quando for velho, serei rico e sábio”. Hoje sei que nem um nem outro. Mas, não obrigatoriamente, preciso ser chamado de burro. Sei, por exemplo, de um bocado de coisa que ignoro.
Antes, fazia essas listas com o que achava que sabia. Tudo perda de tempo. Listas geralmente são absolutas perdas de tempo. E tempo é coisa luxuosa e exígua quando se tem 52 anos. Por isso, neste ano decidi fazer uma lista, outra lista completamente idiota, gratuita e desnecessária, uma compilação, desta vez, do que não sei. Viver, afinal, não é apenas reunir saberes e sabores, mas também angariar dissabores e dessaberes.
Mais do pelas coisas que sabe e domina, um indivíduo pode ser definido por tudo que não sabe. Um ser humano é um conjunto de conhecimentos, experiências e ignorâncias. O silêncio é também uma narrativa. E somos – todos – feitos de histórias.
Eis – então – o que não sei aos 52:
- Não sei absolutamente nada de mecânica. Se meu carro parar na rua, o máximo que faço é verificar o combustível.
- Não entendo coisa alguma de física, química e biologia. Praticamente tudo que aprendi no 2o grau, em outras palavras, não aprendi.
- Não compreendo o que houve com a música brasileira. A única vez em que falo “antigamente era melhor”, é quando falo de música.
- Não sei esconder minhas emoções principalmente quando preciso conviver com quem não quero conviver.
- Não sei ganhar dinheiro.
- Não sei guardar dinheiro. Nunca soube e nunca tive muito dinheiro para guardar.
- Não sei viver sem viajar.
- Não sei viver sem ler.
- Não sei viver sem cinema.
- Não sei viver sem música (boa).
- Não sei viver sem meu trabalho que é educar.
- Não assimilo tão bem assim as novas tecnologias.
- Não sei fazer (muito) bem aquilo de que não gosto de fazer.
- Não sei conviver com aduladores.
- Não sei dançar.
- Não cozinhar.
- Não sei desenhar.
- Não sei esculpir.
- Não sei pintar.
- Não sei construir.
- Não sei tocar instrumentos.
- Não sei cantar (bem).
- Não sei vender.
- Não sei nem sequer andar de bicicleta.
- Não sei a grandíssima maioria dos idiomas.
- Não sei por qual motivo continuo vascaíno (e sofro por isso!).
- Não sei como a mulher que me ama me ama. Mas sei porque a amo.
- Não sei lidar com o meu passado.
- Não sei tampouco como lidar como o meu futuro (e com o presente também).
- Não sei me perdoar pelas pessoas que magoei.
- Não sei escrever tão bem quanto gostaria.
- Não entendo tanto de Filosofia quanto desejaria.
- Não sei perder aqueles que amo.
- Não sei perder.
- Não sei o que fiz para ter filhos tão incríveis.
- Não sei perdoar tanto quanto gostaria.
- Não sei me calar quando devia.
- Não sei praticar a maioria dos esportes.
- Não sei coexistir muito bem com gente que sabe ainda menos do que eu.
- Não sei qual o sentido da vida. Nem sei se sentido da vida existe.
- Não sei se existe alguma metafísica.
- Não sei me relacionar com hipócritas.
- Não sei viver sem café.
- Não quero saber como viver sem aqueles que amo.
- Não sei dirigir (bem).
- Não sei chutar com o pé esquerdo.
- Não sei desamar.
- Não sei ficar em ambiente com música ruim.
- Não sei passar roupa.
- Não sei lidar com ingratidão nem com injustiça.
- Não sei como me acostumar com tanta desumanidade.
- Não sei não saber.
Em outras palavras, aos 52, sou ignorante quase completo.
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